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Há uns tempos atrás, o suplemento Y do Público publicava um texto de página inteira sobre esta jovem. O autor, de que não me lembro o nome, tecia-lhe largos elogios numa espécie de êxtase quase onírico. Chegava ao ponto de justificar, em cada parágrafo, o desinteresse dos portugueses pelo ser como uma prova do seu terceiro mundismo. Obviamente, o autor da prosa, qual iluminado, estava acima da secular ignorância nacional.
A partir dessa altura, comecei a reparar que a jovem, que passei a identificar como a rapariga da cabaça na cabeça, aparecia em tudo o que era notícia cor de rosa. Ou era os problemas conjugais, ou era o consumo de drogas ou outra qualquer treta do género que garantem a fama às Britney Spears desse mundo.
Comecei a pensar que o meu habitual desinteresse pelos "hypes" do momento me estavam a impedir de uma qualquer experiência transcendental. Fui perguntando a amigos e conhecidos se já tinha ouvido alguma coisa da Amy Winehouse. Para além das historietas manhosas da vida da rapariga, ninguém lhe conhecia sequer a voz. Fiquei um pouco mais tranquilo.
Até hoje. Novamente no Y, não uma, mas duas páginas (mais uma coluna de crítica a um DVD) sobre esta fulana de pose estudada e cara de parva a quem apetece dar dois pares de estalos rematados por um cresce e aparece. Mas Vítor Belanciano, o autor, tem uma opinião ligeiramente diferente. Termina assim o primeiro parágrafo do texto: "Da mãe da cantora às Nações Unidas, o mundo parece estar suspenso sobre o que irá acontecer com Amy Winehouse, estrela mais fulgurante, e mais improvável, de 2007." Temo que haja aqui uma ligeira perda da noção de realidade. Mas qual mundo é que está suspenso? E por que carga d'água é que improvável, se tem os ingredientes todos para ser estrategicamente famosa e economicamente rentável?
Depois de escutar umas quantas canções, fiquei com a forte impressão que não é apenas Amy Winehouse que bebe e toma drogas. Tem uma excelente voz, sem dúvida, mas as canções são uma espécie de sobre-requentamento do soul dos anos 60 com uma pop-zinha feita à medida dos tops. E com a quantidade de gente desenquadrada e rebelde que existe no mundo e que também apanha bebedeiras e toma drogas, não percebo o que é que isso tem de extraordinário. Há ainda o argumento das letras que, versando sobre a sua relação com as drogas e demais problemas da sua vidinha errante de suburbana, colocam o seu trabalho acima da esfera do banal. Mas os infortúnios, arrogâncias e infantilidades da famosa jovem inglesa, sejam eles reais ou não, são absolutamente entediantes. Como é que se pode respeitar alguém que ameaça o público com os músculos do marido...