22.9.06

Apontamentos de viagem #1 - Coreia do Norte (4ª parte)

(Museu de Crimes de Guerra dos EUA durante a Guerra da Coreia)
11 de Setembro
Os pins são só para os coreanos, não são para os turistas. Deu-me um baque quando disseram isto. Milhões de pins à minha volta, que o Estado fornecia a toda a gente e o meu dinheiro não os podia comprar. Senti-me como uma criança a quem tinham negado um doce.
Neste dia, viajámos novamente pela província, até à West Sea Barrage, “a maior barragem do mundo”. Deram-nos a ver uma cassete sobre a construção da barragem, o maior exemplo da “vitória do homem sobre a natureza”. A parte mais delirante foi quando a reportagem explicou que o Querido Líder foi lá pessoalmente para resolver problemas técnicos, que os engenheiros não conseguiam resolver. Consegui comprar a cassete.
Visitámos ainda um museu sobre os crimes americanos, durante a guerra da Coreia. Eu sei como os americanos são e sei também que situações de guerra tornam as pessoas deshumanas, mas aquelas pinturas de soldados americanos a cortar seios e esventrar mulheres e as fotos de crânios com pregos espetados, entre outras atrocidades, pareceram-me um bocadinho demais. Fiquei sem saber o que pensar. Cada país faz a sua História.
Seguimos para sul.

12 de Setembro
Visitámos finalmente a DMZ (De-militarized Zone), uma linha de demarcação de 238Km e uma banda de 4Km de largo, 2Km de cada Coreia, junto ao paralelo 38, onde supostamente não vive ninguém e não há qualquer actividade militar. Claro que a área circundante é tudo menos desmilitarizada, é uma das fronteiras mais militarizadas do mundo. O nosso cicerone foi o coronel responsável pelo controlo da fronteira com a Coreia do Sul, o que considerei uma honra para nós. E, no meio de tudo há uma “aldeia” com pavilhões de ambos os países, cortados a meio por uma linha desenhada no chão, com soldados de um e outro lado separados por 2 ou 3 metros de distância. Fiquei tentado a correr para o lado de lá, só para ver o que acontecia, mas refreei-me. Mas para mim todo aquele cenário era absurdo, surreal.
À noite estávamos de volta a Pyongyang, onde assistimos a uma performance artística no Palácio das Crianças. Chamou-me a atenção o facto de as crianças em palco serem todas exactamente do mesmo tamanho. Mas não era bem assim: reparando bem, todas tinham sapatos com saltos de alturas diferentes, de maneira que a ilusão óptica era perfeita.
Soubémos à noite que a equipa feminina de futebol de sub-21 da Coreia do Norte tinha derrotado a China na final do Campeonato do Mundo. Como é natural, regressou em apoteose. As jogadoras receberam de Kim Jong Il uma casa e um carro cada uma. Ficámos a saber também que os ensinamentos do Querido Líder tinham sido essenciais para aquela vitória.
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O Diário de Tintim na Coreia do Norte

1. Da Excitação no Aeroporto de Pequim à Cidade Fantasma

2. Da Visita a Pyongyang, a Cabana & o Juche, os 50 Sites, o Leste do País e os Prodígios de Kim II Sung

3. Do Dia do Piquenique, o Banco de Kim, o Dia Nacional da Coreia, a Festa Cancelada, os Monumentos, a TV e o Mausoléu de Kim

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4. Da Frustração dos Pins, a Maior Barragem do Mundo, os Crimes Americanos, a DMZ, o Palácio das Crianças e a Apoteose das Raparigas do Futebol


5. Da Exposição Internacional da Amizade à Partida com Sabor a Cidra

1 comentário:

allaboutheforest disse...

Não posso acreditar. Saltos com tamanhos diferentes para parecerem da mesma altura? - Isto é impossivel de acreditar que existe.

Obviamente quero ver a cassete. Estou a morrer de curiosidade. Tenho milhares de perguntas para te fazer.