Querido Diário
Não te tenho dito nada, desculpa lá o mau jeito. Tenho andado para fora em viagem, numa viagem espiritual e reflexiva sobre a vida, o amor e coisas dessas sobre as quais se costuma pensar. Para comemorar o meu regresso à terra, convidei esta noite uma vizinha do prédio, cujo nome me escapa, para fazermos zapping juntas em frente à televisão. E assim foi. Vimos os telejornais todos, comparámos as fatiotas, os penteados, os convidados...e só parámos o zapping para ouvir um dos senhores que patrocinaram o estudo de viabilidade do novo aeroporto para Alcochete jurar, pela saúde da mãezinha dele, que não tem interesses nenhuns na outra margem do rio, nunca lá foi, nem sabe onde é e nem quer saber. Fez tudo pelo país dele que ama, é patriota e até já leu os Lusíadas, versão BD é certo, mas que consegue dizer o Canto I sem se engasgar, o que, temos de reconhecer Querido Diário, é um feito. Depois de ver isto, eu e a minha vizinha embrenhámo-nos numa conversa densa e profunda...e acabámos por ir ter à grande questão com que toda a gente se debate, mais cedo ou mais tarde: Céu ou Inferno. Ela esgrimiu lá os seus argumentos, mas eu fiquei na dúvida. Por um lado, o branco fica-me muito mal, e toda a gente sabe que no Céu é indumentária obrigatória. Cheira-me que no Céu deve sempre soprar aquele ventinho primaveril que se entranha nos ossos e que me dá cabo das articulações e quanto à luz, sempre aquela luminosidade muito clara muito propiciadora de enxaquecas e outras maldisposições. Por outro lado, no Inferno, deve parecer sempre Vilamoura no pino do Agosto. Muita gente conhecida, festas temáticas (a festa do vermelho deve ser a mais in), a má disposição habitual de quem recebe. Depois é a quentura que chateia. Alertas laranjas a toda a hora, a falta de água, enquanto os vips enchem piscinas e regam jardins. Não sei. Acho que vou esperar que os senhores que fizeram o estudo para o aeroporto em Alcochete patrocinem algum estudo neste sentido e depois decido.
16.6.07
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4 comentários:
a menina esmerou-se. o seu texto está muito bem. que bela critica.
quando leio alguma coisa sobre o céu e o inferno lembro-me da igreja católica e de como ainda hoje conseguem iludir as pessoas com essa cantilena. será que as pessoas são assim tão burras?
aliás a origem desses termos é tão escandalosamente ingénua que me faz confusão como é que as pessoas, ainda que na Idade Média, acreditavam nela. fogo.
diz que o limbo já não existe, não sendo eu baptizado, preciso de me preocupar?
a mim agrada-me bastante a opção de o Céu+1 mas lá está, falta o estudo
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