7.2.07

Portugal dos Pequeninos


Acabo de ouvir mais uma vez os tempos de antena do aborto na rádio. Já conseguiram desviar toda a gente da questão essencial; nunca na vida eu vi um exercício de manipulação tão violento. E não é por falta de hábito de ser manipulado: todos os dias me tentam convencer por exemplo a ser "cliente prestige" (pronuncia-se "préshtige") do Millennium, quando eu já tenho banco; a comprar um Citroen porque me "faz mais jovem" como ao Sean Connery (o que me faz sentir ainda mais velho); a votar em gente que eu depois descubro que é corrupta, quando é o género que eu mais abomino; a ver telenovelas que desde há décadas são todas iguais; a comer "kinder surpresas", que também são bons para adultos, porque até é romântico; e até a comprar um faqueiro "João Rolo" quando eu já tenho facas.

À medida que a odiosa malta do marketing se vai refinando nas suas técnicas, eu vou concluindo que os portugueses são pessoas pequenas, burras, mesquinhas, medíocres e/ou desonestas, divididos entre os que não pensam e os que só pensam em passar a perna aos outros. Provas disso: mais de um quinto dos portugueses mudaram de opinião em 15 dias neste referendo, porque se deixa levar por argumentos falaciosos; nas votações dos "Grandes Portugueses" e dos "Piores Portugueses" fazem a sua melhor autocrítica, mostram que não têm sequer consciência histórica (a minha teoria é que o único grande português vivo é o Obikuelu); nos empregos, os melhor pagos são normalmente os que vendem (manipulam os outros) melhor; até as casas que constroem para si são cada vez mais horríveis (as partes antigas das nossas cidades, vilas e aldeias são invariavelmente melhores que as novas); querem sempre parecer mais do que são; são uma mistura tenebrosa de beto com piroso; quanto mais músculos têm, mais curtas e justinhas têm as t-shirts; são moralistas e obcecados com as partes baixas dos outros; são xenófobos e não compreendem a diferença; até no futebol (lembro que é um desporto!) são corruptos; e não perdem uma oportunidade de fazer batota, se tiverem poder ou oportunidade para isso, mesmo nas brincadeiras mais inconsequentes.

Não me consigo acomodar a isto e acredito que ainda vou acabar numa camisa de forças. Os portugueses estão cada vez mais pequeninos. Menos com menos não dá mais, dá menos. A matemática que me ensinaram está errada.

6 comentários:

indigente andrajoso disse...

entao... chico-espertismo e nacional-porreirismo, parolos com a mania das grandezes... no seu melhor...

any the one disse...

O que é triste nesta viragem das opiniões em relação ao referendo é ver que os argumentos terroristas e desprepositados do não, que mais não fazem do que defender a ideia de perpectuar a velha questão das públicas virtudes, vícios privados, têm completo acolhimento numa sociedade que vive muito do "parecer bem" e muito pouco do "estar bem".

ZEP disse...

esta questão nem nunca deveria ter vindo a referendo.
não me lembro de me pedirem a opinião quando aumentaram o IVA nem quando perdoaram as dívidas dos clubes de futebol ou aumentaram as propinas (esta última deve ter sido para compensar a anterior)

allaboutheforest disse...

Da mesma forma não houve referendo para financiar estádios de futebol.

Espero que as mulheres que não possam fazer abortos, e no caso do não ganhar, levem os filhos à laurinda alves e à sua tribo para que lhe mudem as fraldas, cuidem das crianças enquanto estão no trabalho, no bar ou a viajar.

carlopod disse...

só há referndo porque um dia há 10 anos atrás o prof. maquiavel rebelo de sousa teve essa ideia para travar a despenalização. nunca mais nos livramos disso.

a laurinda alves pois, essa é que me surpreendeu.

indigo des urtigues disse...

Fiquei surpreendida com as palavras dela! E duma outra senhora artista.." portugal precisa de crianças"...mas que argumento mais estapafúrdio!Fico mesmo chocada! Enfim...
Pesar de tudo, acredito que dia 11 Portugal vai ganhar mais um ponto!