11.10.06

Orelhão Crítico #2: José Cid


Já sei que boas almas, de muitos bons gostos, se apressarão a zurzir-me, mas, eia!, tende calma! Venho falar-vos do maior ícone da música popular portuguesa, José Cid, a propósito do "petit showcase" que ele vai fazer amanhã no Vivámusica da Antena 1, a partir das 3 da tarde.

A mesma geração que põe nos Tops as bandas que fazem música para telenovelas, musicalmente a pior geração de sempre, é a mesma que desanca em José Cid, porque olha para ele e vê um homem de 60 e tal anos, ridículo, de capachinho, olho de vidro e perna de borracha e não um rapaz cool, musculado, de crista e com óculos escuros menos vintage que os de José Cid. É uma geração que aprova o que ouve depois de aprovar o que vê.

José Cid é o expoente máximo da música popular portuguesa da segunda metade do século XX. Nos anos 60, no tempo do Quarteto 1111, trouxe a vanguarda da pop beatlesca para Portugal e sons diferentes daqueles a que o público estava habituado, com reflexos psicadélicos, através de músicas como "El Rei D. Sebastião". Depois, deu um cunho português ao rock progressivo dos Yes e dos Pink Floyd, com músicas como "10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte". Conseguiu internacionalizar-se com os Green Windows, nos anos 70, recebendo prémios internacionais como o prémio Yamaha em Tóquio, com "Ontem, Hoje e Amanhã" e depois a solo conseguiu o melhor lugar português de sempre nos Festivais da Canção (com "Um Grande Amor").

José Cid é também um poeta e um filósofo incompreendido: quando numa canção de amor, encena uma conversa entre cônjuges e a certa altura a senhora pergunta: "Não sei viver sem ti amor, não sei o que fazer"...e o fiel marido responde: "Faz-me favas com chouriço, o meu prato favorito!", José Cid mostra aqui influências degenerativas existenciais, apoiadas numa meta-avaliação redundante e intemporal, que poucos se preocuparam por tentar entender. Quando diz "como um macaco gosta de banana eu gosto de ti" José Cid mostra também que sabe o que tem valor. Se consegue safar-se com isto e até ser admirado por isso, então José Cid é um génio.

Quando o país enfiou a carapuça de colocar o horroroso Rui Veloso como pai do rock'n'roll português, José Cid, o verdadeiro progenitor, teve a humildade de dizer "se o Rui Veloso é o pai, então eu sou a mãe".
Digno de um Rei!

6 comentários:

any the one disse...

Fiquei com uma sensação de dejá vu com este blog.

carlopod disse...

também eu.
a gente está praqui a matar-se com trabalho no blog todos os dias pra fingir que inventa alguma coisa, só porque precisa de reconhecimento social, quando na verdade já está tudo inventado.
agora vou é inventar um raio gama que seja capaz de desintegrar isótopos radioactivos metaestáveis e quando estiver pronto já mostro.

any the one disse...

Enganei-me. O que eu queria dizer era que o post do remiguel é que me trazia uma sensação de dejá vu. Mas se o meu comentário pode ser ponto de partida para tu inventares um raio gama capaz de etc etc...sinto-me completamente a heróina do dia. E se me voltas a chamar nomes...eu dou-te o metaestáveis.

Anónimo disse...

Será que o teste Coreano foi na realidade de um raio gama para isótopos radioactivos metaestáveis e não de armas nucleares convencionais?

remiguel disse...

Eu tive um sonho. O José Cid a cantar para 2 milhões de norte-coreanos no Central Park de Ping&Pang.

Agora que tive oportundiade de ler este ensaio sobre O Cid, a Mãe do Rock Português, estou deslumbrado com a capacidade metaestável demonstrada. Quase tão ergonómica quanto a minha. Merecedor de umas grandes favas com chouriço.

É de realçar ainda que o Cid nao morreu em Camarate, porque teve o bom senso de não aceitar a boleia no avião do SáCarneiro e que ele assinou o melhor álbum conceptual de sempre da música portuguesa.

p.s. - falem mal da coreia e depois admirem-se, nunca mais lá podem entrar.

remiguel disse...

MeuDeus! Não tinha dado pelo vídeo! Depois de vê-lo, deixei de duvidar, agora creio, agora sei que Ele existe. MeuDeus! estou num estado de choque semelhante aos pastorinhos quando lhe apareceu aquela senhora perdida com uma lanterna enorme.