Se há coisa que me tem dado alegria ultimamente é a guerra no BCP.
É nos detalhes que está o gozo. Dá gozo ouvir o Berardo a falar das "quequices" do Jardim Gonçalves; dá gozo ver que é o BPI, banco que foi alvo da OPA do BCP, quem vai decidir quem ganha no BCP; dá gozo ver que é a famosa "blindagem de estatutos", para proteger a administração, que está agora a fragilizar o banco; dá gozo ver como o dinheiro traz alianças curiosas entre pessoas que sempre se deram mal; dá gozo ver a seita em guerras intestinas; dá gozo ver reeditada a traição de Judas a Jesus Cristo; dá gozo imaginar tanto Jardm Gonçalves como Teixeira Pinto a apertar ainda mais o silício; e dá muito gozo ler entrevistas como a que Jardim Gonçalves deu agora ao Público, dizendo com punhos de renda e ar seráfico que a divisão no banco é "perfeitamente sanável" mas claramente a destilar ódio - não aceitando ser fotografado para que o flash nos olhos não lhe desse um ar ainda mais demoníaco e para não dar oportunidade à máquina de lhe apanhar os tiques nervosos de padre que imagino que tenha, como passar o tempo a ajeitar os "collants".
Aplaudo.
31.7.07
The Millennium War
Este refrão não me sai do ouvido
Por eso y por mucho mas
lo que el yanqui necesita
es una aumentada dosis
de jarabe y vietnamita
(obrigado, juanito)
30.7.07
Sexo|Raça|Religião.
26.7.07
D. Sebastião.
Na entrevista à SIC terá dito o PM que há hoje menos cáries do que aquelas que havia quando chegou à cadeira de PM. Pois não deve ser pelos médicos que contratou para o serviço nacional de saúde. Uma vez que os dentistas existentes nos centros de saúde do estado contam-se, mesmo, pelos dedos das duas mãos.
A promessa de 150 mil novos empregos durante esta legislatura parece que afinal não se vai concretizar, mas vamos ver o que conseguimos "arranjar". Até porque segundo as teorias económicas uma elevada taxa de desemprego é uma coisa boa, pois é sinal de que algo está a mudar!!!!!??????? falta saber se para melhor ou pior, o que neste caso me parece não estar a correr muito bem.
Porém todos sabemos que efectivamente tudo está a mudar, no meu local de trabalho e no de muitas outras pessoas com quem tenho falado, nota-se que algo está a mudar. Está quase instituída aquela expressão "olha que as paredes têm ouvidos" ou a permanente ameaça da "lista dos excedentários".
Interessante também é a situação de pessoas (repito pessoas - não números) que têm entre 50 e 60 anos, mais de 30 anos de serviço, que sofrem de doenças oncológicas, renais ou psicológicas graves, a quem lhes foi conferido um grau de incapacidade pelo SNS em torno dos 85 por cento, mas, apesar disso tudo, os seus pedidos de aposentação foram rejeitados pelas juntas médicas da Caixa Geral de Aposentações pois são as ordens que têm do nosso D. Sebastião. Numa pequena confissão pessoal dir-vos-ei que para um familiar próximo (que está quase cego de um olho) ter acesso a uma consulta de oftalmologia num hospital público, tive que enviar um mail ao Correia de Campos a chamar-lhe a atenção para uma situação grave que levaria um ano e meio a ser resolvida numa situação normal. Deve ter tido vergonha ou tocado de alguma forma e mandou marcar uma consulta com urgência.
Mas da perseguição a alguns funcionáros do estado não falarei. Até porque a esse respeito haveria muito para dizer. O simples acto de mudar as regras a meio do jogo não é o pior dos males. Parece-me que vamos entrar numa paranóia de competição desmedida, de delacção em que um acusa outro com o objectivo de lhe passar por cima. Um sistema de avaliação no mínimo ridículo que beneficia apenas aqueles que estão mais avançados nas carreiras e prejudica, para não dizer que convida mesmo a sair, os restantes. O salve-se quem puder e o foder a vida aos colegas está para chegar e temos que estar prontos para isso.
Mas se tivermos em mente que a vida se regula em função dos números tudo isto é compreensível. Quero ver é o dia em que os números precisarem ou tomarem consciência de que as letras também existem.
24.7.07
Tintim na América #8
Carlopod goes to Hollywood
"THE WAIT IS OVER!" - Este desabafo foi a primeira coisa que vi, num enorme e flashante sinal luminoso, assim que cheguei a Los Angeles. Percebi logo a seguir a que se devia a angústia da espera, quando vi os focinhos dos Beckham a surgir no ecran. Vim a saber depois que tinham chegado na véspera e que a cidade estava histérica. Lembrei-me de uma t-shirt que tinha visto num indivíduo em Madrid com a estampa "Aburrido de los Beckham" e achei curioso o contraste. Acho que eles fizeram bem em se mudar.
Estava um bocadinho longe da América profunda, onde começou esta jornada. Primeiro que chegasse ao centro da cidade, demorei à vontade mais de uma hora. Aquilo nem tem centro! Los Angeles é a anti-cidade. É um emaranhado de estradas com mais ou menos 80 Km de diâmetro. Meti-me no Sunset Boulevard, com grande entusiasmo, que estava convencido que reconhecia do filme, mas não reconhecia nada, até que topei que tem umas dezenas de quilómetros e vai até à praia.
L.A., contando com os arredores, tem uns 20 milhões de pessoas. E todas elas têm um carro, pelo menos. E nenhuma delas sabe guiar (pelo menos, não sabem conduzir de marcha-atrás). E gostam todos de carros grandes. Lembram-se que vos falei dos "Hummer", que passaram de veículo de combate para carro de passeio? Pois há quem conduza um Hummer assim (santa paciência!):
O que salva a cidade são as praias. Estive numa praia fixe. "Venice Beach". É daquelas praias cheias de actividades, com grandes misturas étnicas e sociais, com skaters, malta de patins, surfistas e uns cromos a fazer musculação ao ar livre (nos espaços onde em Portugal normalmente haveria parques infantis, com baloiços e escorregas, eles cá têm máquinas de musculação ao ar livre). Mas o ambiente fervilhava de actividade e os graffiti, muito bons, davam bom aspecto àquela zona da cidade. É uma zona cara, a avaliar pelas casas de arquitectura contemporânea fantásticas, mesmo de cair para o lado. Dei comigo a morrer a rir quando vi esta tabuleta no jardim de uma delas:
Acredito que só para poder ler isto depois, já dava gosto envenenar o cão.
No dia seguinte, fui então até Hollywood, onde não resisti a fazer um daqueles 'tours' às casas das estrelas, alegadamente para poder dizer mal, mas lá no fundo com genuíno interesse frívolo e insciente. As casas não têm interesse arquitectónico nenhum, são mesmo uma tristeza, mas fiquei a saber coisas importantíssimas, como por exemplo que Sean Connery é o vizinho da frente de Snoop Doggy Dogg; ou que Cher pôs a casa à venda porque tem excursões de turistas à porta todos os dias de 15 em 15 minutos; que Christina Aguilera lhe comprou a casa (provavelmente porque tem excursões de turistas à porta todos os dias de 15 em 15 minutos). Fiquei a conhecer o local onde Hugh Grant recebeu o broche de Divine (pronuncia-se em francês - Divine) - e também fiquei a saber qual a caixa multimbanco onde ele levantou o dinheiro para pagar a conta. Estive no parque onde George Michael foi, como se lembram, "passear o cão". E vi vários prédios da Igreja da Cientologia, incluindo um que se chamava Cientology Celebrity Center. Spooky...
Voltei de L.A. para San Diego de comboio. Estava carregado de gente esquisita, que ía para uma terreola qualquer assistir a umas corridas de cavalos. Bêbados. Elas bêbadas de champanhe; eles bêbados de cerveja. Elas, todas, de chapéu - para imitar as inglesas - mas, como não têm classe, vestidas um bocado à puta; eles, com a descontracção habitual, vestidos praticamente de pijama. Estes americanos são uma beca saloios, para padrões europeus, pensei eu. E esta foi a cereja no topo do
THE END
23.7.07
The Classic Cutting-Edge Reply (with a twist)
Surpresa!!!
Mas perguntam vocês - afinal o que fez esta senhora para passados tantos anos voltar a ser notícia? Pois bem. Já não bebe e dedicou-se à música. Depois de ter assumido um grande problema de alcoolismo (que não era assim tão grande porque em média só bebia uma garrafa do whisky por dia), em finais dos anos 80, a estrela norte-americana refugiou-se em Portugal. É verdade. Esteve 15 anos num centro de reabilitação na serra de Sintra (aqui ao lado) onde uma nova terapia de recuperação foi testada com sucesso pela primeira vez para este tipo de addicts. Desenvolvida em cooperação com vários médicos, cientistas, músicos, djs e beat diggers de todo o mundo ( uma espécie de freeks com doutoramentos e licenciaturas), esta terapia consiste em audições massivas de música. Ao que parece Sue Ellen surprendeu os próprios médicos ao começar a interessar-se por música de dança, na sequência da qual iniciou uma carreira de dj. Sente-se bem em Portugal e decidiu adoptar a nacionalidade portuguesa. Parece que a senhora começa a ser presença habitual nos principais clubs e discotecas do país. Não se admirem de a encontrarmos um destes dias.
Os seus trabalhos musicais incluem incursões, tipo remixes, de Heróis do Mar, Abba, Maria Bethania, Manu Dibango, José Calvário, Mler if Dada, David Bowie e Né Ladeiras, entre outras.
Interessante também é visitar o sítio do my space http://www.myspace.com/sueellendisco e passear pelos links dos amigos, onde figuram - por exemplo: Samantha Fox, MacGyver, Marlon Brando, Spike Lee, Pamela Anderson, Monica Lewinsky (que nem todos correspondem aos verdadeiros autores) e até a alguns portugueses como Legendary Tigerman.
20.7.07
19.7.07
Tintim na América #7
«It's the sense of touch. In any real city, you walk, you know? You brush past people, people bump into you. In L.A., nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something».
(do primeiro diálogo de 'Crash', filme passado em Los Angeles)
Tintim na América #6
Khalifornia
Já devem ter topado que vou escrevendo isto à medida que posso, portanto o que aqui deixo corresponde normalmente ao que me lembro de ter acontecido uns dias antes e não propriamente ao que está a acontecer agora.
Continuando a partir do ponto onde tínhamos ficado, na Flórida: seguindo sábios conselhos, parti com o meu companheiro de viagem, para a costa oeste. Podia perder-me aqui com descrições poéticas bucólicas da beleza da paisagem ao longo da Interstate 10 (que liga os Estados Unidos de uma ponta à outra), mas estou firmemente convencido que perderia toda a clientela que me segue mais assiduamente no blog (e que, basicamente, se alimenta de veneno). Então direi apenas que a paisagem era castanha e que se quiserem ter uma ideia mais aproximada vejam por exemplo o "Thelma e Louise".
Um parêntesis só pra dizer que pelo caminho comprei finalmente o meu novo MacBook Pro (de onde vos estou orgulhosamente a escrever e que substitui o outro, que se suicidou), o qual é aqui bem mais barato do que em Lisboa. Na loja da Apple fiquei a olhar de forma imbecil para o iPhone, que não posso comprar porque está bloqueado para uma companhia qualquer daqui da América e que só chega à Europa no fim do ano. É tão ridículo eu ter aquilo na mão e não poder comprar que me é difícil arranjar metáforas. É um bocado como ter um Ferrari e não ter dinheiro para a gasolina; ou como ter inteligência e negociar com a Fenprof; ou ter boa visão de jogo e ser gaja; ou ter talento e trabalhar na TVI. Não serve para nada.
Entrei na Califórnia (ou "Khalifornia", como diz Ahnold, o governador) pelo Sul. Depois de se passar uma cordilheira de montanhas e canyons, a paisagem muda subitamente de desértica em tons de castanho, bege e terracota para verdinha alface, quando nos aproximamos do litoral. A razão desta mudança súbita não tem a ver com qualquer fenómeno microclimático mas sim com mão humana: é resultado da política levada a cabo durante décadas, naturalmente polémica, de desviar rios inteiros dos seus cursos naturais, por forma a irrigar abundantemente o litoral (e secando-se assim o interior). Penso resignado que o país mais rico do mundo (e a Califórnia em particular, que se fosse um país seria o oitavo mais rico) pode fazer isto na boa, por mais bizarro que nos pareça e está até longe de ser o maior atentado ao ambiente que eles fizeram.
Comecei a exploração por San Diego, uma cidade que achei bem bonita, talvez porque faz um bocado lembrar o México, ou melhor, o México se o México tivesse dinheiro. Talvez porque me pareceu uma cidade americana mais humana do que o normal. Talvez tenha ajudado ver montes de coisas com nomes em espanhol, reflexo da bem sucedida miscigenação cultural, com a imigração maciça. Dito isto, para ser justo, devia também lembrar que a Califórnia seria ainda hoje por direito mexicana, se não tivesse sido roubada pelos Estados Unidos (em 1847). É aliás daqui que vem o slogan usado pelos movimentos de defesa dos direitos dos imigrantes: "we didn't cross the border; the border crossed us!".
Dá-me ideia que aqui na Califórnia tudo gira em volta da praia. Assim sendo, não podia deixar de ter mais essa dolorosa experiência de vida e, mimetizando os locais, atirei-me logo a uma prancha de surf. Rapidamente percebi que nenhum milagre aconteceu e portanto os meus resultados em cima da prancha não melhoraram nada. Concluo que afinal a culpa não é do Atlântico, por ter ondas de merda, como sempre aleguei. Percebo que a culpa é do Atlântico E do Pacífico! E o Pacífico é bué perigoso. Não me lembro de ter revisto a minha vida em flashback como naquele momento em que fiquei enrolado por uma parede de água, que me levou ao fundo, e em que fiquei alguns segundos sem saber onde era a parte de cima, o que me deixou na altura uma beca desorientado (eufemismo). Fiquei também a saber que a malta aqui também privatizou as ondas, no momento em que um pro passou por cima de mim na prancha aos berros de "my wave! my wave!". Pensei que podia tê-lo mandado literalmente para o inferno (em mar aberto é mais fácil fazer estas coisas do que pensam) mas vou armar em compreensivo e direi apenas que faz parte de um apurado sentido de propriedade. Aqui fica o registo dos campeões:
Também foi só quando cheguei aqui que, num momento de brilhantismo, me ocorreu que a malta da Flórida que olhava muito para mim na praia, não era tanto por causa do meu físico impressionante (não sou assim tããão goodlooking) mas sim porque aqui não se vêem uns speedos na praia provavelmente há umas três décadas. Quando percebi que era essa a razão, enfiei a cabeça debaixo da areia e fui depois a correr comprar uns calções abaixo do joelho, que doravante nunca mais largarei, nem no Meco.
Não quero terminar sem vos deixar uma bela imagem destas paragens:
(casa em Imperial Beach, San Diego, California)
No próximo episódio - Carlopod goes to Hollywood.
17.7.07
16.7.07
"Homem Mau"
12.7.07
Tintim na América #5
Wal Mart
Hoje fui às compras. Fui seduzido pela autenticidade do Wal-Mart, esse "nirvana da America profunda", e pelo facto de ser praticamente o único sítio onde se pode fazer compras aqui na parvónia. O Wal Mart é uma multinacional de lojas gigantes, construídas na periferia dos aglomerados urbanos, uma beca mais foleiros que o Colombo, que têm estado sob fogo por parte das classes médias nostálgicas dos pequenos comércios (mom'n'pop stores) que havia nos centros das localidades e que foram todos destruídos pelo Wal Mart.
Penso em comprar aqui montes de presentes para todos os meus amigos que deixei em Portugal. Depois lembro-me que eles prezam sobretudo a minha amizade e carinho e apoio nas horas difíceis e compro um relógio para mim.
Any's Diary
Fresquinhas do dia!
11.7.07
Tintim na América #4
Nação Bush
Antes de continuar, gostaria de agradecer aos meus vizinhos o facto de me deixarem usar as suas redes 'wireless'. Descobri que basta sair para a rua e andar m bocadinho, que encontramos logo net. Depois é só sentar à sombra de uma árvore e começar a escrever.
A qualquer sítio onde vá que tenha água, gosto de mergulhar nas profundezas e ver o aspecto lá em baixo. Queria conhecer umas cavernas que para aqui há, onde se faz mergulho, mas que implicam viajar para o interior. Assim fiz. Fui em direcção ao país rural, muito mais conservador, muito mais pobre, muito mais religioso do que o litoral. Verifico que a assimetria (entre os 'have' e os 'have-nots') é impressionante. A América que vai à Lua, vai ao fundo à mesma velocidade. Começamos a ver as casas daqueles que eles chamam 'white trash'. São casas que assustam, que estão rodeadas de lixo ou de carros velhos que há muito não funcionam mas cujos habitantes nunca se deram ao trabalho de se mandar para a lixeira. Começo a ver roulotes que são casas ou cabeleireiros, lojas que vendem armas+canas de pesca ("guns and fishing"), igrejas a cada esquina, com inscrições bizarras (uma oferecia um CD) e tabuletas pela estrada com apelos religiosos, sendo que a minha favorita foi esta:
...que do outro lado tinha escrito isto:
...que apreciei principalmente devido ao erro ortográfico numa das palavras inglesas mais comuns.
Fiquei com a sensação de que tinha acabado de entrar na autêntica 'Nação Bush'. Deu-me um calafrio pensar que estava ali a génese e o epicentro do conservadorismo americano, a ideologia mais poderosa da História. Pensando bem, é aquela gente que comanda o Mundo.
As pessoas com quem me cruzava não tinham um ar fixe. O ambiente não era baril e eram de certeza todos republicanos, que são por definição fdp. Parecia gente do género que tem sexo com os filhos. Lembrou-me um episódio 'creepy' dos X-Files, onde Mulder e Scully vão parar a uma casa onde há uma família 'inbreed', onde todos tiveram sexo com todos e todos nasceram no seio da família, sendo portanto todos assustadoramente 'freaks'. Lembrou-me também o 'Texas Chainsaw Massacre', filme de terror onde uns incautos (como eu) se envolvem com uma família de psicopatas pouco recomendáveis. Fugi de toda a gente. Ainda me cruzei com um xerife todo artilhado Rambo-style. Também fugi dele.
O esperado mergulho nas cavernas, não consegui fazer. Cheguei lá e contaram-me que alguém que quer comprar o parque onde elas estão deitou umas algas para a água para estragar a visibilidade e fazer assim baixar o preço. Brilhante!
Voltei para o litoral, ainda a tempo de ir à praia. Estava praticamente deserta: apenas duas famílias, uma delas, pai, mãe e dois filhos, toda vestida de branco (dá para topar que foi ideia da dona de casa, para incutir a ideia de pureza no seio da família) e outra onde pontifica um homem de charuto e calções com a bandeira americana. Havia também um indivíduo que cantava 'I'm on Fire' de Bruce Springsteen, com uma voz tal que mais parecia um cover do Bruce Springsteen pelos Bee Gees.
Tintim na América #2
Red Neck Riviera
O voo seguinte levou-me ao pequeno aeroporto de Valparaiso, no norte da Flórida, uma zona privilegiada pela natureza mas jocosamente apelidada de "Red Neck Riviera", porque nos anos 60 e 70 era a zona de férias dos 'rednecks', um arquétipo aplicado em geral às classes trabalhadoras de brancos de zonas rurais de estados do sul.
Era já de noite quando lá cheguei e me fiz à estrada. A fome apertava precisamente quando dei de trombas com um desses 'drive-thru', onde a gente compra toda a espécie de 'junk food' sem sair do carro. Estes sítios funcionam assim: há um microfone onde primeiro fazemos a encomenda e depois andamos com o carro mas um bocadinho e para ir buscar a comida a uma janelinha que se abre mais à frente. O que achei estranho foi que, quando falei ao microfone, o tipo que me atendeu o pedido falava inglês com um forte sotaque indiano, tal qual o Apu dos Simpson (o Apu, para quem não se lembra, é o dono do 'Kwik-E-Mart'). Pois bem: vim a saber depois que estas empresas fazem agora 'outsourcing' e que o indivíduo com quem falei ao microfone estava, não no interior do estabelecimento mas sim...na Índia!
A viagem continuou, ainda meio zonzo com mais esta partida da globalização. Cheguei ao meu destino, fui directo para a cama e acordei às seis da manhã (coisas do jet-lag) com esta vista:
Era a altura de parar de pensar mal. Um dos locais mais bonitos onde estive. Todas as manhãs passei a acordar a esta hora para andar de kayak durante uma horita, antes do duche. Mais duas imagenzitas:
Nos meus passeios de kayak acabava sempre por ver malta a fazer jogging àquela hora da matina. Confesso que nunca percebi o que leva um ser humano racional a fazer estas corridas desenfreadas, comportando-se de forma obsessiva-compulsiva, sem propósito nenhum que não o de fazer exercício físico. E muito menos entendi como é que os americanos conseguiram exportar este hábito insane para o resto do mundo.
Ao tomar duche, volta-me logo a vontade de dizer mal. Aqui não têm o vulgar "telefone" na banheira, há só o chuveiro pendurado na parede e é escaldante. Ora bem: acontece-me sempre, ao fazer as transições água-morna-água-quente, queimar-me. Isto, porque a água chega retardada e, quando vejo que vem muito quente, a minha reacção é "f..." e encosto-me para trás. O problema é que, encostado na parte de trás da banheira, as minhas pernas ainda se estão a queimar, pois o chuveiro é impiedoso. No beco da banheira não tenho escapatória e tenho de me embrenhar outra vez no Inferno para voltar a pôr a água mais fria. Não sei se estão a ver o drama que isto é.
O resto do dia é normalmente passado a explorar a "Red Neck Riviera". Percebo que já não são pobres os que aqui vêm. Mas continuam a ser rednecks: conservadores, ignorantes, ultra-religiosos e....ricos. As zonas recentemente urbanizadas são uma tristeza de arquitectura e de ambiente, a lembrar discursos do Carvalhas. As casas mais ricas são em geral do estilo Vitoriano (para esta malta a ostentação de um certo nível de vida é sagrada) e de um mau-gosto que envergonharia até os condóminos do nosso Parque dos Príncipes. O filme "Truman Show", com Jim Carrey, sobre um homem que, aos 30 anos, percebe que sempre viveu dentro de uma comunidade "perfeita" que é, afinal um programa televisivo, foi filmado precisamente aqui (numa comunidade chamada Seaside, que existe mesmo, com regras de vida impensáveis, que têm que ser cumpridas escrupulosamente).
Os carros, carros normais, quase não existem. Todos os que para cá vêm de férias trazem enormes jupes, 'S.U.V.', 'pick-up trucks' e em particular os famosos Hummer, que ganharam notoriedade na primeira guerra do golfo e passaram a ser usados não apenas para fins militares mas também para recreio de americanos que os acharam tão "cool" nas imagens da CNN que os decidiram comprar, pouco sensibilizados que estavam pelo seu consumo exorbitante ou para os estragos que faz ao ambiente. É também giro ver os autocolantes sobre a guerra que eles colam nos carros, como "I support our troops" (ficamos a saber que quem não é a favor da guerra é como se não apoiasse os tropas no terreno); ou " Freedom is not free" ou ainda vários anti-aborto.
As praias, onde passei a ir à tarde até ao pôr-do sol, são lindas. As areias são brancas como a cal (são de origem calcária) e está mais quente dentro de água do que fora. Dá para fazer horas de 'bodysurfing', sem nunca ter frio. Algumas praias estão amontoadas de gente, outras, mesmo ao lado, estão desérticas.
À noite, caímos na ratoeira de experimentar um restaurante caro e piroso (tinha uma montra iluminada com uma mesa posta e uma garrafa de vinho embrulhada num guarnanapo só para vermos como sabem pôr a mesa). No final da refeição vem a pior notícia que podia ter, nesta fase da minha vida: têm "key lime pie", uma tarte de lima com origem na Flórida, que é a minha sobremesa favorita. Mesmo assim, resisto e como apenas doze.
10.7.07
Notícia de última hora!
8.7.07
Trienal Arquitectura Lisboa.
A trienal de Arquitectura de Lisboa está a consolidar o seu espaço na cidade. É pena ninguém saber da sua existência e os que sabem não se dão ao trabalho de a visitar. É aqui que, efectivamente, podemos ter uma ideia dos projectos arquitectónicos que serão executados em todas as localidades do país. Sobretudo aqueles que valem a pena ser nomeados e de que autarquias ou proprietários se orgulham de apresentar. A exposição está organizada de forma a que as autarquias competem entre si na mostra de projectos, em particular o pólo da cordoaria nacional. Os grandes arquitectos apresentam as suas maquetas que em muitos casos já se transformaram em esculturas e obrigam o observador a imaginar o resultado final. Outros de tão perfeitos que são fazem-nos viajar no tempo e avançar 5 décadas no tempo. Tal é a originalidade e a vanguarda dos projectos. O mais interessante de tudo é mesmo que as melhores propostas são feitas por arquitectos portugueses. Existem obras absolutamente fabulosas. O pólo do Pavilhão Atlântico apresenta os projectos internacionais relativos aos países convidados. Se é certo que alguns apresentam projectos da treta, outros há que são autênticas inovações e terão, no futuro, uma palavra a dizer. Destaque para um edifício tipo "arranha céus" na horizontal a construir na Ásia.
A Pompa e a Circunstância.
E pronto. Foi assim. Com pompa, circunstância, polémica e ainda sem se saber se vamos ou não encontrar um outro espaço e dinheiro que possibilite à capital integrar as digressões mundiais de arte contemporânea.
É certo que é uma das melhores colecções de arte do mundo e a melhor no país. Agora, será que o local mais indicado seria o CCB?
Tintim na América #1
Aeroporto George Bush, Houston.
Afinal vim parar bem mais longe do que ao Dark Side of the Moon. Preparem-se vocês também para uma viagem à América profunda, aquela onde a realidade, aqui ou no Iraque, supera sempre Hollywood.
O projéctil que me levou em busca da América demorou dez horas e meia a fazer o trajecto Londres-Houston. O piloto culpou os ventos, eu culpo a trajectória que ele fez. Mas a viagem não foi má: havia uma escolha de 250 filmes e 250 séries de televisão. Demasiada escolha! Não consegui ver nenhum, limitei-me a ler sinopses e a ver trailers. Devo ter visto uns 150 trailers.
Houston foi só mais uma escala. Enquanto esperava pelo próximo voo, no aeroporto George Bush, percebi logo que estava num mundo diferente: tinha chegado ao planeta de origem de Jabba the Hutt, o monstro morbidamente obeso e hermafrodita de Star Wars. É impressionante. Os monstros passeiam-se no terminal do aeroporto com dificuldade, são obesos mas não maciçamente obesos como em Portugal ou na Europa. São muito obesos e em sítios improváveis, deformados, enormes, moles, com rabos e barrigas enormes, a cair para os lados... E são todos assim. Lembro-me de ter visto em Super Size Me que Houston é a cidade com mais obesos da América. Na obesidade, mais do que em tudo o resto, faz sentido a frase de que os texanos tanto se orgulham e que se lê em todas as matrículas deste Estado: "Everything is bigger in Texas". Pergunto-me: porquê??? mas porquê??? E, num daqueles raros momentos em que me sinto iluminado, olho para baixo e encontro a resposta: estou sentado num restaurante tex-mex do aeroporto chamado Chilly's, à frente de um gigantesco prato de "totopos con salsa picante", que me custou 2 dólares e bebo uma margarita carregada de sal e açúcar que deve ser mais ou menos de um litro.
Esta descoberta brilhante levou-me a outras divagações. Lembrei-me, por exemplo, que de cada vez que venho à América, cago diferente. Enquanto em Portugal largo umas caganitas, na América não. São uns cagalhões enormes, que se espraiam por toda a sanita, grossos, poderosos, invasivos. Enquanto estou com estes pensamentos, sou admoestado por uma intervenção do meu companheiro de viagem, que se lamenta, ao ver uma senhora com um rabo ainda maior que os outros, que "o rimming ali deve ser difícil".
Embrenhado nestas asserções filosóficas, decidi perguntar-me, como se perguntou Bernard-Henri Lévy na "Vertigem Americana":
- Não será esta execração anti-americana uma forma de fascínio?
Pensei um pouco e respondi-me:
- Não.
5.7.07
Ontologia Messengeriana #4
Carlos - olá amor tudo bem?
Lolita - olá tudo bem
Carlos - sim querida
Lolita - e o fds foi bom?
Carlos - oooo
Lolita - ?
Carlos - então mostras...
Lolita - então o q?
Carlos - tu é que sabes ;)
Lolita - não percebo
Carlos - queres um dersenho...
Lolita - pois se calhar
Carlos - sim só tu quereres...gostas eu gosto
Lolita - eu não quero nada e sinceramente ainda não percebi o que queres dizer
Carlos - pois eu já sabia disso mas enfim, também quero
Lolita - eu acredito
Carlos - então portanto gostas de mim...eu cá gosto
Lolita - tu gostas de ti? acho muito bem
Carlos - eu de ti e tu de mim...uiuiui...hora e local
Lolita - acho que está de chuva
4.7.07
Yo Love Tori, Tori not love George
Tori Amos sings Yo George! live in Estugarda
Querido Diário
Começaram as férias. Escrevo-vos de Londres, que é a minha escala antes de seguir para o Dark Side of the Moon. Não sei o quanto vos vou poder escrever de lá pois, como sabem, o Dark Side of the Moon tem este nome porque é a superfície da Lua oposta a que conseguimos ver da Terra. Lá, as comunicações com a Terra são impossíveis de fazer devido a massa da Lua (vidé Apolo 13).
As duas últimas imagens que guardei de Lisboa foram um cartaz de Telmo Correia e outro da pequena Maddie no aeroporto. Não consegui deixar de associar as duas coisas. Telmo Correia tem claramente cara de psicopata e imagino que qualquer retrato-robot de pedófilo nos poderia levar a ele. Mas também acredito que possa estar sugestionado por ele ser do PP. Não sei o que pensar. Apesar de tudo, as provas são inconsistentes.
Percebo que a procura pela pequena Maddie se estende por todo o lado. Já sentado no avião, faço a minha parte: por baixo do meu banco não está. Por momentos, antes da descolagem, quase tenho a certeza de ver o seu olho mau a fitar-me. Pura ilusão: não passava de um berlinde perdido no chão do avião.
Chego a Londres. Está a chover. Quase parece Lisboa.
1.7.07
I am so lonely
Sugestão de Domingo:
BDonline, num blog lindo chamado A Beautiful Revolution
Eskimo Woe: A tale of despair, isolation, global warming, urban deprivation and chilly willies
e ainda no mesmo blog, saltar até às lindas caixas brancas que se espalham por londres, caixas solitárias e corajosas: arriscam-se sempre a serem implodidas pela police...
http://www.abeautifulrevolution.com/blog/little_white_box/index.html