19.7.07

Tintim na América #6


Khalifornia

Já devem ter topado que vou escrevendo isto à medida que posso, portanto o que aqui deixo corresponde normalmente ao que me lembro de ter acontecido uns dias antes e não propriamente ao que está a acontecer agora.

Continuando a partir do ponto onde tínhamos ficado, na Flórida: seguindo sábios conselhos, parti com o meu companheiro de viagem, para a costa oeste. Podia perder-me aqui com descrições poéticas bucólicas da beleza da paisagem ao longo da Interstate 10 (que liga os Estados Unidos de uma ponta à outra), mas estou firmemente convencido que perderia toda a clientela que me segue mais assiduamente no blog (e que, basicamente, se alimenta de veneno). Então direi apenas que a paisagem era castanha e que se quiserem ter uma ideia mais aproximada vejam por exemplo o "Thelma e Louise".

Um parêntesis só pra dizer que pelo caminho comprei finalmente o meu novo MacBook Pro (de onde vos estou orgulhosamente a escrever e que substitui o outro, que se suicidou), o qual é aqui bem mais barato do que em Lisboa. Na loja da Apple fiquei a olhar de forma imbecil para o iPhone, que não posso comprar porque está bloqueado para uma companhia qualquer daqui da América e que só chega à Europa no fim do ano. É tão ridículo eu ter aquilo na mão e não poder comprar que me é difícil arranjar metáforas. É um bocado como ter um Ferrari e não ter dinheiro para a gasolina; ou como ter inteligência e negociar com a Fenprof; ou ter boa visão de jogo e ser gaja; ou ter talento e trabalhar na TVI. Não serve para nada.

Entrei na Califórnia (ou "Khalifornia", como diz Ahnold, o governador) pelo Sul. Depois de se passar uma cordilheira de montanhas e canyons, a paisagem muda subitamente de desértica em tons de castanho, bege e terracota para verdinha alface, quando nos aproximamos do litoral. A razão desta mudança súbita não tem a ver com qualquer fenómeno microclimático mas sim com mão humana: é resultado da política levada a cabo durante décadas, naturalmente polémica, de desviar rios inteiros dos seus cursos naturais, por forma a irrigar abundantemente o litoral (e secando-se assim o interior). Penso resignado que o país mais rico do mundo (e a Califórnia em particular, que se fosse um país seria o oitavo mais rico) pode fazer isto na boa, por mais bizarro que nos pareça e está até longe de ser o maior atentado ao ambiente que eles fizeram.

Comecei a exploração por San Diego, uma cidade que achei bem bonita, talvez porque faz um bocado lembrar o México, ou melhor, o México se o México tivesse dinheiro. Talvez porque me pareceu uma cidade americana mais humana do que o normal. Talvez tenha ajudado ver montes de coisas com nomes em espanhol, reflexo da bem sucedida miscigenação cultural, com a imigração maciça. Dito isto, para ser justo, devia também lembrar que a Califórnia seria ainda hoje por direito mexicana, se não tivesse sido roubada pelos Estados Unidos (em 1847). É aliás daqui que vem o slogan usado pelos movimentos de defesa dos direitos dos imigrantes: "we didn't cross the border; the border crossed us!".

Dá-me ideia que aqui na Califórnia tudo gira em volta da praia. Assim sendo, não podia deixar de ter mais essa dolorosa experiência de vida e, mimetizando os locais, atirei-me logo a uma prancha de surf. Rapidamente percebi que nenhum milagre aconteceu e portanto os meus resultados em cima da prancha não melhoraram nada. Concluo que afinal a culpa não é do Atlântico, por ter ondas de merda, como sempre aleguei. Percebo que a culpa é do Atlântico E do Pacífico! E o Pacífico é bué perigoso. Não me lembro de ter revisto a minha vida em flashback como naquele momento em que fiquei enrolado por uma parede de água, que me levou ao fundo, e em que fiquei alguns segundos sem saber onde era a parte de cima, o que me deixou na altura uma beca desorientado (eufemismo). Fiquei também a saber que a malta aqui também privatizou as ondas, no momento em que um pro passou por cima de mim na prancha aos berros de "my wave! my wave!". Pensei que podia tê-lo mandado literalmente para o inferno (em mar aberto é mais fácil fazer estas coisas do que pensam) mas vou armar em compreensivo e direi apenas que faz parte de um apurado sentido de propriedade. Aqui fica o registo dos campeões:
Também foi só quando cheguei aqui que, num momento de brilhantismo, me ocorreu que a malta da Flórida que olhava muito para mim na praia, não era tanto por causa do meu físico impressionante (não sou assim tããão goodlooking) mas sim porque aqui não se vêem uns speedos na praia provavelmente há umas três décadas. Quando percebi que era essa a razão, enfiei a cabeça debaixo da areia e fui depois a correr comprar uns calções abaixo do joelho, que doravante nunca mais largarei, nem no Meco.

Não quero terminar sem vos deixar uma bela imagem destas paragens:


(casa em Imperial Beach, San Diego, California)
No próximo episódio - Carlopod goes to Hollywood.

3 comentários:

allaboutheforest disse...

Daqueles calções que parecem umas calças? Mas o objectivo não é apanhar sol também nas pernas?

Anónimo disse...

fizeste bem em ir comprar essa burka dos membros inferiores, pelo que me constou os pintos calçudos ficam completamente passados com speedos, havendo relatos de casos em que se atiram aos bulges à dentada por não conseguirem resistir. tem cautela! e vê-se logo que esses surfistas-tubarões são bons americanos, mywave, mywave, santa paciência!

mas a califórnia parece linda, especialmente o Monumento ao Revólver, coisamailinda!

já isso do iphone desmoralizou-me, tinha apostado que não voltarias sem um. lamentável.

Anónimo disse...

Passar de speedo para wetsuit também é exagero