26.7.07

D. Sebastião.

Quando se pensava que o país poderia não ter outro remédio senão uma anexação ao país vizinho, eis que surge a salvação. José Sócrates - Primeiro Ministro de Portugal. Um homem de esquerda que deixa a própria direita apenas com argumentos de esquerda. Em seu nome o Ministério da Cultura assinou mais um chorudo protocolo com uma empresa privada. Há que ter em conta a economia porque afinal ... tudo se reduz a ela. O BES (esse tão desejado mundo) vai gerir um fundo de 83 milhões de euros para projectos audiovisuais. O objectivo - projectar a fantástica imagem de Portugal. Tudo em prol da economia porque é por ela que os agentes culturais devem trabalhar, porém - e isto que fique bem claro, nem todos os filmes produzidos têm que ter salas cheias. - Queria o Secretário de Estado dizer que pode haver um ou outro filme mais esquisito para aqueles freaks que gostam de coisas estranhas. Mas o objectivo será sempre o lucro - esse há que não perdê-lo de vista.

Na entrevista à SIC terá dito o PM que há hoje menos cáries do que aquelas que havia quando chegou à cadeira de PM. Pois não deve ser pelos médicos que contratou para o serviço nacional de saúde. Uma vez que os dentistas existentes nos centros de saúde do estado contam-se, mesmo, pelos dedos das duas mãos.

A promessa de 150 mil novos empregos durante esta legislatura parece que afinal não se vai concretizar, mas vamos ver o que conseguimos "arranjar". Até porque segundo as teorias económicas uma elevada taxa de desemprego é uma coisa boa, pois é sinal de que algo está a mudar!!!!!??????? falta saber se para melhor ou pior, o que neste caso me parece não estar a correr muito bem.

Porém todos sabemos que efectivamente tudo está a mudar, no meu local de trabalho e no de muitas outras pessoas com quem tenho falado, nota-se que algo está a mudar. Está quase instituída aquela expressão "olha que as paredes têm ouvidos" ou a permanente ameaça da "lista dos excedentários".

Interessante também é a situação de pessoas (repito pessoas - não números) que têm entre 50 e 60 anos, mais de 30 anos de serviço, que sofrem de doenças oncológicas, renais ou psicológicas graves, a quem lhes foi conferido um grau de incapacidade pelo SNS em torno dos 85 por cento, mas, apesar disso tudo, os seus pedidos de aposentação foram rejeitados pelas juntas médicas da Caixa Geral de Aposentações pois são as ordens que têm do nosso D. Sebastião. Numa pequena confissão pessoal dir-vos-ei que para um familiar próximo (que está quase cego de um olho) ter acesso a uma consulta de oftalmologia num hospital público, tive que enviar um mail ao Correia de Campos a chamar-lhe a atenção para uma situação grave que levaria um ano e meio a ser resolvida numa situação normal. Deve ter tido vergonha ou tocado de alguma forma e mandou marcar uma consulta com urgência.

Mas da perseguição a alguns funcionáros do estado não falarei. Até porque a esse respeito haveria muito para dizer. O simples acto de mudar as regras a meio do jogo não é o pior dos males. Parece-me que vamos entrar numa paranóia de competição desmedida, de delacção em que um acusa outro com o objectivo de lhe passar por cima. Um sistema de avaliação no mínimo ridículo que beneficia apenas aqueles que estão mais avançados nas carreiras e prejudica, para não dizer que convida mesmo a sair, os restantes. O salve-se quem puder e o foder a vida aos colegas está para chegar e temos que estar prontos para isso.

Mas se tivermos em mente que a vida se regula em função dos números tudo isto é compreensível. Quero ver é o dia em que os números precisarem ou tomarem consciência de que as letras também existem.

11 comentários:

carlopod disse...

eu por mim optava mesmo pela anexação ao país vizinho.

allaboutheforest disse...

Não digas isso porque fica-te mal como funcionário de um local público com um acordo especial resultante do tratado de Maastricht, e como tal, aparentemente intocável do ponto de vista da alteração das regras do jogo a meio do próprio jogo.

Anónimo disse...

eu tb anexava e safavamos de fazer aeroporto

indigente andrajoso disse...

anexação???

que tal dinamitar a fronteira? rasgar portugal do resto e ficarmos à deriva pelo oceano, faziamos um resort tipo madeira no pais inteiro, duplicação da costa, uns prémios do guiness e arranjavamos um alberto joão de estimação por mútuo acordo de forma a chatear a europa... isso é que era...

qual underground qual quê...

carlopod disse...

um alberto joão é que não. tudo menos isso. além disso, à deriva já estamos. podíamos era dinamitar nos pirinéus, como sugeriu o saramago.
se fossemos anexados tínhamos o zapatero como presidente del gobierno q é bem mais fixe q o sócrates e ficava também resolvido o problema do allaboutheforest.

allaboutheforest disse...

a referência à jangada de pedra fica-te tão bem carlopod. Mas acredita que é muito frustante quando dás o teu melhor e vês as regras dojogo serem alteradas a meio.

ai se eu não amasse Lisboa.

Anónimo disse...

Eu acredito... ja pasei tantas vezes por isso...

E tb amo lisboa, mas não sei se que será o que me faz ter cada vez mais saudades de Buenos Aires

Europa cansa....

Anónimo disse...

*mas não sei o que será que me faz

Unknown disse...

Pois se as eleições fosse hoje eu daria, pela primeira vez na vida, o meu voto ao PS, ou melhor, ao Sócrates. Apesar de me irritar bastante a moderação constante das medidas.
A escolha de privados para gerir fundos públicos é uma opção copiada de todos os países que, pressupostamente, são super fantásticos, desenvolvidos e muito melhores que Portugal. Tipo, Espanha, por exemplo. A mesma Espanha que chegou a ter 15% de desemprego no tempo de Aznar, que fez o trabalho sujo na área da economia e das finanças, e que permitiu agora a Zapatero ter outras preocupações mais sociais. São espanhóis de esquerda que o dizem.
Em Portugal, as paredes sempre tiveram ouvidos. Durante o tempo de Salazar, não tinham ouvidos apenas, eram mesmo grandes orelhas. Mas faz uma enorme diferença quando os casos se tornam públicos. Essa pequena possibilidade é um sinal de que o sistema começa a funcionar.
A história do email ao Correia de Campos é deliciosa. Daquelas que só acontecem em países pequenos. E o facto de ter respondido só quer dizer que as assessorias do ministro funcionam.
Sobre os funcionários públicos, convém acrescentar também que estamos a falar de uma grupo de 700.000 com regalias especiais de que são beneficiários 1.500.000 de pessoas. Já alguma vez tentaram comparar a longa lista de regalias dos funcionários públicos com a de qualquer outro assalariado? É uma experiência no mínimo chocante. São apenas números, eu sei, mas quando eu entrego ao Estado 40% do que produzo e não recebo nada em troca, os números adquirem alguma importância.
E quanto ao D. Sebastião, foi apenas um adolescente tonto e com a mania das grandezas, género menino da Linha, que hoje usaria sapatos de vela, calças pelos tornozelos e cabelo à foda-se. O Sócrates está bastante acima disso.
Sobre a hipotética união ibérica, ao contrário do que parece, a Espanha não é um mar de rosas, como lado nenhum o é, e a última coisa que lhes deve passar pela cabeça é juntar mais um problema aos muitos que já têm.

allaboutheforest disse...

compreendo a tua posição. e até o porquê de votares no Sócrates. Se estivesse no teu lugar também teria outras preocupações que não as que tenho hoje. Também é certo que os funcionários publicos têm determinado tipo de regalias que os privados não têm. Porém os privados, em muitos casos, ganham muito mais. a função pública é uma opção que as pessoas tomam. é um bocado fodido quando diriges a tua vida para um determinado caminho e vês as regras do jogo serem alteradas quando já está tudo definido. Quanto à anexação à aquela frase do "nem os espanhóis querem ser espanhóis".

Unknown disse...

A função pública, no sentido de serviço público, não existe. Ainda à pouco tempo uma nossa amiga teve de resolver um problema na Segurança Social e a situação só teve um fim mais rápido porque no meio do desespero lá começou a chorar e o ser que a estava a atender teve a generosidade de lhe oferecer a sua boa acção do dia. Isto depois de lá ter ido quatro vezes, perdendo várias horas de cada vez, num acto que a própria dizia de puro masoquismo porque foi sempre mal-tratada e todas as informações que lhe davam ou eram contraditórias ou eram incompletas.
Claro que, a vaga possibilidade de pedir o livro de reclamações não passou de uma mera vontade dado o receio de retaliação. E isto sim, é um verdadeiro atentado aos mais elementares direitos democráticos.
Obivamente, há gente competente e incompetente em todo o lado. Mas quando a regra geral no serviço público é a incompetência, a situação é bastante mais grave porque, ao contrário dos privados, não te resta qualquer alternativa.
E histórias como esta, acho que toda a gente tem. Talvez não seja por acaso que os argumentos da função público sejam tão pouco convincentes.
E essa frase dos espanhóis só pode ser portuguesa. É uma das enormes diferenças que nos separa. Os espanhóis gostam muito de ser espanhóis e não tem problemas nenhuns com isso. Até ao exagero. Os portugueses são mais dados a sonhar com esse maravilhoso e irreal mundo que existe lá fora. E, entretanto, lá vão andando com as mãos nos bolsos e com a cabeça entre as orelhas.