23.9.07

A criança e a Interactividade


A palavra de ordem é interactividade. O futuro é interactivo. As crianças nascem e de imediato lhes é dado a perceber que tudo é passível de ser apreendido, fruído, mexido, bebido, lambido, fodido etc... Numa semana em que a personagem principal é uma criança, o sinal de alarme inquita-se pela liberdade descontrolada destes humanos que nos atormentam cada vez mais em todos os lugares que ocupam. Antes era o porta-te bem, não faças isso, não se fala alto, não chores senão levas, etc... agora é exactamente o contrário. A criança parece ter voltado novamente ao estado de graça que já teve na Idade Média em que todos os aturavam menos os pais. Não fosse a taxa de natalidade estar abaixo da linha d`agua e perigar de nem se aproximar dela, defenderia medidas radicais imediatas. É certo que quem não tem filhos não está para aturar os dos outros, obviamente.

Porém as coisas parecem não caminhar bem. Vamos ao cinema, lá está a criança a perguntar ao pai qualquer coisa e a perturbar a audiência. No supermercado a berraria do costume, do compra-me um selvagem e os pais a desesperar sem saber que raio de porcaria é um selvagem. Vão a um WC público põem-se a olhar para o pénis dos adultos e começam com perguntas parvas. Vão ao museu, aquilo é tudo deles - jogam-se para cima das obras de arte, mexem em tudo, gritam, choram, enfim ... com um bocado de sorte temos o prato completo. Todos os anos a piscina que frequento encerra umas cinco ou seis vezes porque alguma criança vomitou na piscina. Que seca. No meu tempo havia sempre alguém que me fazia ver o meu tamanho. Trata-se de uma questão de respeito para com os outros. O facto de haver cada vez menos crianças não lhes dá o direito de poderem fazer o que lhes apetece. Até porque pode ser extremamente perigoso e eunão ando a pagar impostos para tratar crianças mal formadas e sem a noção das coisas.

Acho bem que existam cada vez mais espaços onde lhes é vedada a entrada. Tanto em hotéis como em museus, cinemas e em muitos outros espaços. No caso dos museus, imaginem obras de arte de valor incalculável à mercê de uma criancinha com a mania que é esperta e que aquilo é tudo dela (ok, a Amazónia do Julião Sarmento tem ar de parque infantil, mas mesmo assim há limites para tudo). A Laurinda Alves, tão protectora, podia abrir um local onde se ensina as criancinhas a respeitar o mundo que os rodeia. Desde os seres humanos, animais, vegetais a seres inanimados, porque até esses merecem respeito.

6 comentários:

carlopod disse...

a Natália Correia escreveu um ensaio dedicado às crianças chamado "Uma estátua para Herodes".
Recomendo a leitura.

Alguns excertos:

Se há pessoas em que o ridículo não transparece é porque nunca foram apanhadas a divertir uma criança.

Apesar de tudo há crianças simpáticas: as maltratadas. São as únicas que testemunham a estupidez dos pais.

Fazer festas às crianças força à indignidade física porque obriga a curvar a espinha.

A criança é a última tentativa da espécie para tiranizar o indivíduo.

No tirano repete-se a gravidade das brincadeiras infantis.

Pôr um leão faminto no quarto dos brinquedos. Corre-se o risco de que a criança devore o leão.

Filho: bengala para velhote derivada da moral cristã.

As crianças só se confessam quando brincam aos bandidos e às guerras.

O mal foi Cristo ter dito: "Deixai vir a mim as criancinhas". Ficou coberto de moscas e tomaram-no por um cadáver. Tanto bastou para que se fundasse uma religião.

allaboutheforest disse...

Simplesmente Fantástico.

Anónimo disse...

Vou ja lêr, adorei excertos...

Anónimo disse...

pois então não é que este post me curou da tesão doentia que me provocava a mãe da pequenita, ao lembrar-me que a certamente de fácil acesso e portuguesa Laurinda Alves, não anda por cá por acaso. A este Forest não lhe escapa nada. Isto dos miudos é coisa de pouca dura, pois se mesmo o nº dos ucranianos radicados em portugal já baixou de 32%, depois de perceberem que isto é uma acabada chulisse. Os miudos também já perceberam que mesmo na pedofilia a coisa não excede os 25 euros, dose, valor bem mais abaixo do que paga na nossa vizinha Espanha, e nem estou a inventar pois este numero foi me revelado por Carlopod, investigador português reconhecidissimo, que na mesma altura teve o cuidado de fornecer várias moradas que tinha descoberto no chão enquanto esperava o autocarro.
jm

allaboutheforest disse...

25 euros dependendo do escalão etário, porque os mais pequenos já pedem o dobro - prato completo.

remiguel disse...

a natália sabia-a toda. ora aí está um bom pretexto para voltar à senhora, que anda um pouco esquecida. bute convidá-la pró blog?

este delírio do forest: "No caso dos museus, imaginem obras de arte de valor incalculável à mercê de uma criancinha": deu-me que pensar porque me parecia muito interessante deixar alguns museus à mercê das criancinhas mais profissionais, oferecendo-lhes até alguns martelos, por exemplo, uma sala ou outra do Museu do Chiado, diversas salas decoradas pelo alexandre melo, algumas obras de construçao civil do cabrita reis, diversos exemplos de génios como josé d guimarães ou do simpático cutileiro.. já estão a ver a coisa