27.4.07

Shortbus


Nunca vi nada assim. Shortbus é um dos filmes mais originais que vi nos últimos anos. É intimista, comovente e tragicómico. Sente-se que o filme é uma obra de arte e uma daquelas com a capacidade de nos comover, o que vai sendo cada vez mais raro de encontrar.

São os personagens que fazem a delícia do filme. São-nos quase todas apresentados através de cenas de sexo explícito, a roçar o porno, talvez chocantes para alguns (vemos mais esperma neste filme do que sangue em alguns filmes gore), mas essas cenas servem, mais aqui do que em qualquer outro filme que me lembre, para entrarmos mais profundamente dentro da intimidade de cada um desses personagens. Apercebemo-nos das tragédias e das frustrações de cada um deles através do sexo e do humor. E deixamos de olhar para as suas taras pessoais sob um ponto de vista moralista para vermos apenas ali humanos que amam humanos. Há uma actriz fabulosa, chamada Sook-Yin Lee, que faz o papel de uma terapeuta sexual que precisa de terapeuta sexual e que tem um desempenho equiparável ao das actrizes que trabalharam para Woody Allen nos anos 80. Há também um antigo prostituto, que filma tudo o que se passa na sua vida e que (invejavelmente) consegue fazer um auto-felatio, que parece decalcado do personagem principal de Tarnation. Há uma dominatrix, desiludida com a sua clientela, que responde pelo nome de Severin e que, desafortunadamente para ela, se chama na realidade Jennifer Aniston, como a outra. Há um ex-Mayor de Nova York, que é decalcado de Edward Koch, o Mayor que foi acusado no livro "And The Band Played On" de ter ignorado o desenvolvimento da SIDA no seu estágio inicial, mas em relação ao qual no filme não deixamos de desenvolver também alguma afectividade. Estes e outros personagens encontram-se todos no Shortbus, um clube de sexo em grupo. A parte mais comovente é que, no fundo, nenhum destes personagens parece ir a este clube em busca de sexo. O realizador consegue conjugá-los a todos de uma forma harmoniosa e inteligente e tempera as tragédias individuais com momentos de humor deliciosos. Há uma polémica cena com um trio homossexual, muito bem concebida, onde o patriotismo americano é levado a um "novo nível" e que é hilariante. Esperem para ver.

O final é apoteótico, optimista, em que todos cantam, mas onde que apesar de tudo não se fica com a sensação de se ter caído num happy end convencional. O filme vem aí. Passou ontem no Indie Lisboa.

12 comentários:

Anónimo disse...

se for para o circuito comercial espero que revejam a tradução que estava abaixo de miserável.

Anónimo disse...

Ela prefere ser tratada por conselheira de casais e não como terapeuta sexual

carlopod disse...

porque será?

ah. a música do filme está no post anterior, do razorblade.

Anónimo disse...

uma sentida critica. Como é possivel que a injusta condenação social do Presidente da câmara de Lisboa, Professor Carmona, baseada no facto de os carrascos do PS o transformarem em arguido, não seja mencionado neste correctissimo blog. O Sexo tem certamente relevo na sociedade moderna, mas com decoro e comedimento.
josé manuel

Anónimo disse...

concordo com o zé manel, isto do carmona estar a ser injustiçado só por não ter sexo é horrível.
quanto ao filme, a mim comovia-me muito mais que eles fossem para lá honestamente, isto é, em busca de sexo, e não com segundas intenções.

Anónimo disse...

Descobri este blog a propósito do shortbus, olá. Já não me ria tanto com um filme há muito tempo.

carlopod disse...

olá
volta sempre! nós somos 6, algum há-de saber entreter-te.
adorei os teu blogs.

indigente andrajoso disse...

muito bom...

para a proxima tens que re-apresentar os colegas bloguistas...

;)

carlopod disse...

fá-lo-ei seguramente. apareçam no lesboa no próximo fim de semana.
eles suspeitam que vos viram no restaurante, mas não tinham a certeza de quem eram. confirmas?

indigente andrajoso disse...

sim as suspeitas confirmam-se, mas a duvida estava no ar e nem um adeuzinhos saltou...

infelizmente não vou poder ir ao lesboa, talvez a quem? va

Anónimo disse...

6, 2 ou 1... há este blog, já cá estou de volta e tudo.

ena, está à vontade para apareceres também.

Anónimo disse...

fantasia: reproduzir live a cena do hino dos USA. ora, humm, que actores poderíamos escolher para os papéis, humm?