27.3.07

O estado da nação #1


Concursos
Foi deprimente o desfecho do concursinho da RTP. Não por ter ganho um parolo enfiado, mesquinho e com ar de padreco ressabiado que alguns insistem em chamar ditador, quando o ser nem disso esteve à altura. Foi triste porque a RTP, alienada como sempre foi, não percebeu que foi a única derrotada de tão infeliz palhaçada.
O resultado do joguinho "Os Grandes Portugueses" apenas quis dizer uma coisa: apesar de todo o alarido criado à volta da coisa, a RTP só conseguiu mobilizar os radicais em torno dos seus santinhos e mais uma gentinha que não sendo adepta do antigo regime tem horror ao Cunhal, tendo como única militância conhecida ser anti-comunista e que na maior parte dos casos não faz ideia do que isso é. Apenas não é nada bem ser comunista.
Claro que muitos saudosistas devem ter tido o seu primeiro orgasmo na vida. Mas o que ninguém parece perceber é que Cunhal e Salazar são faces de uma mesma moeda. Podem ter sido rapazes de fortes convicções, mas ambos confundiram o país com o seu quintal. Se fossemos verdadeiramente juntos, ambos deviam ter sido julgados por crimes de lesa-pátria. Por mim, acho que ainda estamos muito a tempo.
A pena do Salazar só seria maior porque teve acesso ao poder e o Cunhal não.
Jaime Nogueira Pinto teve, com visível gosto (o que não diz nada de bom do próprio) a tarefa suja de defender Salazar. Foi bonito vê-lo dizer um monte de alarvidades sem se rir: que no tempo de Salazar não havia corrupção, que assim o aspecto mais negativo que ele tinha era uma excessiva humildade, e tal, e tal... O facto de ter deixado o país num estado miserável, fechado ao mundo, de ter queimado e vidas e recursos numa guerra que só um idiota é que não via que estava perdida, não, nada disso são aspectos negativos. Isto para já nem falar na polícia política e na censura, coisa menores, sem importância. Mas isto não é nada de espantar: este é o país que se deixou governar durante 40 anos por este ser miserável e miserabilista, tendo sido preciso o próprio a cair da cadeira para, mais ou menos, se ter posto fim à coisa.
Odete Santos, que até podia ter graça se não se levasse tão a sério e se fosse um pouco mais civilizada, também defendeu Cunhal sem se rir. Ponto negativo deste grande português: também era muito humilde tendo em conta o facto de ter dedicado toda a vida ao partido. E é aqui, estranhamente, que Odete Santos não vê o problema. Confundir o partido com o país, como se fosse um sonho termos todos cartão do PCP, não está estruturalmente distante do sonho de Salazar. Entre a padralhada e os sindicalistas, venha o diabo e escolha.
A fibromialgia de Maria Elisa quase a levou quando teve de anunciar que Salazar era o vencedor. Odete Santos estrebuchava alucinada e Nogueira Pinto lá ia dizendo que aquilo era apenas um concurso. Outros diziam que os resultados demonstravam o descontentamento do povo com a classe política e mais umas tretas do género. E pergunta-se, mas qual descontentamento? Só se for descontentamento consigo próprios. O mesmo dedo que se aponta à classe política pode ser virado para o povo que a elege. Os odiosos políticos são apenas o espelho visível de um grande número de odiosas pessoas a quem o estado concedeu um cartão de eleitor. A começar por alguns seres que estavam no estúdio, como um fulano da associação de estudantes da Universidade do Minho. A pobreza do discurso era tal que até a associação de estudantes da CERCIs lhe deveria ser vedada.
Mas nem tudo é assim tão mau. O único grande vencedor da noite foi Aristides de Sousa Mendes que ninguém deve saber muito bem quem foi e que mesmo assim ficou em terceiro lugar. O que indica que nem tudo está perdido. E até os salazaristas, que estão histéricos, não são verdadeiramente um problema. A maioria tem mais de 60 anos e, felizmente, estão cada vez mais perto desse bonito momento em que se juntarão a Salazar na paz do senhor. Quanto aos admiradores de Cunhal, também não fazem grande mossa e até dão um pouco de colorido à democracia.

3 comentários:

Anónimo disse...

a mim tanto me azucrinaram que paparam-me presque um euro para votar no pessoa. mas látá, tou de consciência tranquila. e paguei para isso. obrigado rtp.

allaboutheforest disse...

as cerca de duzentas mil pessoas que votaram salazar podiam ir para a madeira e sujeitar-se à ditadura do cretino que lá está. se têm assim tantas saudades fiquem até à vontade para ir para a china, onde também têm um indivíduo que economicamente está a tirar a china do pesadelo mas ... enfim vocês sabem.

carlopod disse...

adorei essa de que "a fibromialgia da maria elisa quase a levou quando teve que anunciar que o vencedor era salazar" :-D