22.3.07

Requiem por um país











Se houvesse algum pingo de seriedade na defesa dos nossos valores artísticos e culturais, o "Adeus à Vida", de Fátima Ferreira & The Brothers, já teria sido classificado como um bem de alto valor patrimonial. A essência de um certo Portugal (provavelmente maioritário) está superiormente sintetizada nestes quatro minutos de canção. E que outra coisa senão uma obra prima poderia em apenas quatro minutos revelar todas as evidências de um país.

Está lá tudo. Não é preciso dizer mais nada: o fétiche exibicionista pela desgraça e tragédia, a religiosidade parola e pouco convicta, a naturalidade do abuso sexual sobre crianças, o puritanismo hipócrita, paternalismo irresponsável, a leviandade e ligeireza, a profunda pobreza de espírito, o gosto provinciano pelo toque estrangeiro, o sentimentalismo saloio e falso e a vitimização parola. Por ser mais eficaz no poder de síntese, o texto da canção vai muito para além de "O Labirinto da Saudade" ou de "Portugal, Hoje: O Medo de Existir". Ao pé de "Adeus à Vida", as obras de Eduardo Lourenço e José Gil parecem paráfrases de redundâncias.

Depois há ainda a música. O orgãozinho não é o espírito de uma época. É uma coisa desenrascada, barata, comprada numa feira qualquer, jeitosinha e que até dá para fazer parecer que são muito instrumentos. E o ritmo vai descendo e subindo como um lamento orgulhoso (tão Salazar), variando entre a lamechice pacóvia, a submissão ao designio superior querendo, no entanto, fazer crer que se tem a dignidade de morrer de pé como as árvores.

E tudo isto é triste? Não. É só uma burla pateta. E não, não me lembrei disto por causa da irrelevância da Maria José Nogueira Pinto, do CDS-PP ou mesmo do Paulo Portas e dos seus arruaceiros (sejam eles pretos ou gays); nem por causa do Público, que quer agora ser um jornal sério, dedicar quase quatro páginas a desfazer um hipotético boato sobre o irrelevante percurso académico do primeiro-ministro; também não me lembrei do Marques Mendes nem do palhacito da Madeira; a ministra da cultura também não me veio à memória, nem os curadores-críticos de arte, do Público e do Expresso, e os seus amigos-artistas que são sempre do melhor que há; não estava a pensar em Fátima Felgueiras, nas irmãs Jardim, na Paula Bobone e outros indigentes do género; não me passou pela cabeça o procurador João Guerra, que investigou o processo Casa Pia, e que se consegue contradizer sempre que fala do "envelope 9"; nem Souto Mouro, essa coisa indefinível que esteve à frente da justiça durante não sei quanto tempo; e santana lopes, para desagrado do próprio, também não me lembrei dele... Que faremos de tanto entulho? Podemos sempre dizer adeus à vida!

11 comentários:

allaboutheforest disse...

opah não consigo ouvir a música. vê lá pf se consegues colocá-la novamente. deve estar com algum problema.

dizer adeus à vida!! prefiro dizer adeus à vida deles. Mas também acho que tens razão. isto é um entulho só. as notícias e os protagonistas do nosso Portugal são ilariantes.

allaboutheforest disse...

A imagem é muito fixe.

acwo disse...

robic20:07:53czeba wypisac okreslenia
czeba wypisac okreslenia
20:07:55?

Anónimo disse...

acho que o player já está a funcionar... espero. de manhã este não funcionava.

carlopod disse...

ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!

não acredito!!!

ando há DÉCADAS para descobrir esta música! DÉCADAS!

Anónimo disse...

pois, também eu :)

Anónimo disse...

é uma beleza, não é?

any the one disse...

adeus mãezinha...que coisa mai linda. estou contigo e com a mãezinha...há que partir

allaboutheforest disse...

lolololololol

isto é mesmo do tempo da outra senhora. só mesmo tu. lolol se bem que a parte instrumental e a imagem partem o coração a qualquer um.

Anónimo disse...

esta maravilha devia ser consagrada pela unesco! eu que cresci trauteando este hino português vos digo que a haver dez canções que representem a alma do país, esta é uma delas. é lamentável, mas é a vida

Anónimo disse...

a do "palhacito da madeira" dá cabo de mim