Sentido de Humor #2

Culinária Única

Desde que o Expresso passou a ter um director normal, que o jornal se tornou mais legível. Perdeu uma boa parte da graça, é verdade! Mas gozar com os mais desfavorecidos sempre me pareceu uma vilania. A revista Única, tirando algumas semanas de excepção, é que parece não ter beneficiado nada com a saído do Rainho. O que é muito difícil de compreender porque bastava retirar aquela secção labrega sobre a noite lisboeta (do Buda Bar e da Capital, basicamente) para a revista subir logo dois degraus no índice qualidade.

Na revista da semana passada, dada a total ausência de conteúdo, resolvi entreter-me com as páginas de culinária. Com grande surpresa, descobri que as receitas da Única são um momento de elevação poética. É impossível compreender o que é suposto nós fazermos com aquilo. E a ideia de que seria possível obter o mesmo resultado que está na imagem é utopia pura.

É mais difícil abordar a receita de uma simples "sopa líquida de bacalhau com ovos de codornizes e poejos" do que compreender o pensamento político de Pedro Santana Lopes. O texto entra a matar: "Fazer um caldo rico com bacalhau, mirepoix (cebola, alho francês, talos ou salsa ou coentros) - opcional." Alguém faz ideia do que é um mirepoix? Ou do que pode ser considerado um caldo rico? Ou o que é que é opcional?... Calculo que isso não interesse para nada. E a conversa lá segue pelo mesmo ritmo. A liberdade poética tem o seu ponto mais alto com as instruções para a preparação de telhas de parmesão. A expressão é bonita, mas não dá para experimentar em casa.

Pergunto-me quem é que escreverá estas alarvidades? Será que enlouqueceram? Por vezes dá a sensação que sim. Ou será isto porque não têm conteúdo para a revista toda? Ou isto é a seccção cómica? Será que é suposto os leitores contarem as suas experiência ao tentarem levar estas receitas à prática?