Por aquilo que vejo, a campanha do não está muito mais organizada do que a do sim, no caso do referendo ao aborto. Já recebi dezenas de mails sobre o assunto, incluindo comunicados das conferências episcopais. Esta pérola que aqui vos deixo, a título de exemplo, é particularmente imbecil porque se manifesta contra um tipo de aborto que até já é permitido. Mas o Diabo está nos detalhes e aquela referência pseudo-poética aos "olhos azuis" da irmã é ainda mais irritante porque desmascara o autor do texto como alguém demagógico, primário, reaccionário, retrógado e até um xenófobo/racista retinto e contumaz.
«Os olhos azuis da minha irmã
No último Prós e Contras, a eurodeputada Edite Estrela considerou que o
aborto poderia ser legítimo, caso a mãe descobrisse que a criança era
portadora de trissomia 21.
Eu tenho uma irmã com olhos azuis. Chama-se Mónica, tem 22 anos e tirou o
curso profissional de Serviços Básicos de Hospitalidade.
Trabalha hoje numa pastelaria de Lisboa. Os olhos dela são lindos e ela é
educada, feminina, anda sempre perfumada...
A Mónica é a minha irmã e irmã de mais três. Gostamos muito dela e ela é
muito feliz. Dá unidade à família, está atenta sempre a todos e a cada um.
A sra. eurodeputada não tem os olhos azuis mas tem uns olhos tão bonitos
como os da Mónica. Tem os talentos e as virtudes de avó e de mãe. E tem
dificuldades; certamente também chora e se alegra, é mais uma das pessoas
deste nosso planeta que acorda todas as manhãs e lava os dentes.
De certeza que já viu um pobre na rua e lhe estendeu a mão direita (a
esquerda) ou as duas, ou olhou para uma prostituta e sentiu pena. De certeza
que já ajudou alguém em apuros.
Gostávamos que viesse a nossa casa, provasse os muffins que a Mónica faz e
visse o gosto com que ela põe a mesa. E descobrisse que esta menina de
olhos azuis tem... trissomia 21.
E ficaria bem contente por ela ter nascido. Tal como nós. Tal como qualquer
pessoa.»
extraído do DESTAK
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16 comentários:
Para os incultos como eu:
retinto
adj.,
tinto segunda vez;
de cor bem carregada;
diz-se do touro de pêlo semelhante ao dos cavalos castanho
contumaz
do Lat. contumace
adj. 2 gén.,
que tem contumácia;
teimoso;
obstinado;
afincado no seu parecer;
desobediente.
Realmente aquele ultimo paragrafo de "o gosto com que ela põe a mesa" diz tudo
P.S. Só mesmo alguém muito primário convidaria a Edite Estrela para chá em sua casa.
sim, também achei que esse parágrafo dizia tudo :-D
esta conversa mete nojo! é uma pena que o aborto não seja legal há mais tempo. talvez tivessemos a sorte de nunca ter tido o autor do texto entre nós e o mundo seria tão melhor.
a referência aos olhos azuis da gaiata é particularmente tocante. e se tivesse olhos castanhos, já não havia problema? só falta dizer que também tinha a pele muito clarinha...
talvez a mónica não ache tanta graça quando descobrir que foi educada para sopeira.
o não pode estar melhor organizado. mas também parece que está muito mais desesperado.
fiquei entretanto obcecado pelo "é mais uma das pessoas
deste nosso planeta que acorda todas as manhãs e lava os dentes"
será um anagrama??? tem de haver algum motivo superior para alguém com mais de 8 anos escrever numa frase como esta
o texto deixou-me uma dúvida: quando dá tanto destaque aos olhos azuis, será que quer dizer que os olhos azuis é uma característica dos mongolóides? ou olhos azuis fazem as pessoas mongolóides?
a razão é simples: a família sofre toda de trissomia 21.
então e não gostaram do "anda sempre perfumada"?
mas isso é normal. sabe-se que as pessoas com olhos azuis cheiram muito mal.
o facto da irmã desta criatura apresentar um cromossoma a mais no par 21, certamente a enche de alegria em cada um dos dias da sua vida. mesmo que tente esquecer que tem um cromossoma a mais, alguém ou algo vai sempre fazê-la lembrar esse facto, mesmo que lhe sejam retirados todos os espelhos e/ou objectos reflectores dos lugares que frequenta.
A cara arredondada, os olhos com uma inclinação para cima e os membros inferiores e superiores menores assim como os dedos, farão com que se lembre para o resto dos seus dias que é deficiente.
gozada na escola, ostracizada pela generalidade dos seres que a rodeiam, apelidada de coitadinha e alvo da pena de todos. deve sentir que a sua vida é o máximo. a pastelaria onde trabalha deve ser o que sempre sonhou para si, depois de descartados todos os sonhos relacionados com castelos, principes encantados e sexo (com excepção da violação).
na sua vida continuará presente a bruxa má, a maçã envenenada, todos os nomes fantásticos que os seus colegas de escola tiveram a amabilidade de lhe chamar e que ainda não conseguiu esquecer por imperativos vários e, sobretudo, o SOFRIMENTO. sim, o sofrimento. até ao último dia em que viver nunca esquecerá que houve alguém que a deixou nascer para sofrer.
isto foi extraído do Destak,logo, claro que o texto foi inventado. das duas uma, ou inventado pelo "jornalista" ou inventado por aquele senhor das famílias numerosas - que protagoniza grandes descontos para aqueles casais que, por falta de imaginação, fazem filhos em série. a pista está aqui: "Mónica é a minha irmã e irmã de mais três". Ui, tantos!
embora seja na teoria apologista da teoria nietzscheriana do super-homem, na prática as coisas mudam um pouco...
neste debate não se pode debater assuntos pessoais e privados, porque todos temos algum ponto comuns...
de forma consciente penso que ninguem pode ser a favor do aborto per sí, mas a verdade ele existe e que sendo uma realidade social e humana temos que abranger para criar regras precisas...
vou votar sim
RELATÒRIO DA INVESTIGAÇÃO:
O texto, obviamente inventado de alto a baixo, parece-me ter alguma raiz neste blogue católico: http://euquecaminho.blogspot.com. Está mais precisamente em http://euquecaminho.blogspot.com/2006/11/de-jaime-bilbao.html. Abaixo do posto do texto seguem-se uma série de piadas caseiras e trocas de coments, através dos quais se percebe que o Jaime Bilbao (que raio de falta de imaginação) é inventado. Do que investiguei, o autor tem mesmo uma irmã com T21, que não tem olhos azuis, mas gosta de fazer bolinhos e os do blog já os comeram (a pastelaria é alegoria, tal como os olhos).
O certo é que o texto já corre por toda a net e sei lá que mais, levando a conversas longas (como esta neste blogue).
Há um detalhe delicioso no texto, que, pelo que li por aí, ninguém liga nenhuma: é que a Mónia fez o curso profissional de Serviços Básicos de Hospitalidade. Sim, Básicos. Presumo que seja uma alegoria. É que o curso, pelo que consegui apurar, não existe mesmo. Hélas! Ai ele há católicos tão alegóricos...
Valerá a pena darmos algum destaque a isto para desmascarar esta palhaçada católica? Talvez com uma contracorrente de mails?
Um pouco de sensatez. Ou a Mónica agasalha o sardo ou não. Se não então está cá a mais. Para sopeiras já temos ucranianas e com cursos tirados no estrangeiro.
José Manuel.
Tratar o tema desta forma - seja pelos a favor da legalização ou contra a mesma - tem sido o erro das campanhas em que o Não acaba por ganhar.
Os defensores da criminalização do aborto criam manobras de diversão e os defensores da legalização vão atrás deles. Criam-se discussões paralelas sem qualquer interesse.
Um feto portador de Trissomia 21 tem ou não direito à vida? Se for alheio à nossa vida não; se for nosso filho, tio, primo, irmão já a conversa é outra. O que é que se estava a discutir exactamente??? ahhhh - o aborto. Ou melhor: a despenalização do aborto, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas (é essa a questão colocada em referendo).
A prática ou não de um aborto é uma questão pessoal. O ser a favor ou contra o mesmo idem. O que se tem de discutir é se esse acto pode ou não ser punível pela lei.
E passando ao mundo real, há mil razões pelas quais o aborto deveria ser legal, em que destaco:
as humanas - com a legalização do aborto, as mulheres passarão a usufruir de melhores cuidados médicos não correndo os riscos que correm actualmente
as sociais - após a legalização a tendência será para que a sociedade passe a aceitar o acto, não condenando moralmente quem o pratique. Este será um processo moroso, é certo.
as económicas - se o número de mulheres que vai a Espanha fazer um aborto, o fizer em Portugal estará a contribuir para os cofres do Ministério da Saúde. E o que eles precisam de dinheirinho...
as menos humanas - evitar-se-iam muitos energúmenos* que pairam neste mundo (e não estou a falar dos portadores de Trissomia 21)
*substantivo masculino
1. possesso do Demónio;
2. figurado pessoa que, dominada por uma obsessão, pratica desatinos;
3. figurado pessoa desprezível;
4. figurado ignorante;
Sinto-me verdadeiramente frustrada quando leio os argumentos da campanha pelo NÃO. Para além de ignorante e tacanha, é criminosa. A campanha pelo NÃO revela a grande irresponsabilidade e imaturidade que Portugal terá de saber superar, mais cedo do que tarde.
Vamos lá a ver se nos entendemos, agora bem claro...Fazer um aborto, nao é o mesmo que trocar de camisola, ir almocar com os ilustres colegas ou celebrar uma missinha aqui, outra ali. Nao hajam quaisquer tipo de equivocos, a mulher que opta pelo aborto é a mulher que toma uma das decisoes mais dificeis da vida - decisao esta que a acompanhará para o resto da sua vida. Este tipo de decisao nao depende da temperatura da agua do mar, este tipo de decisao é uma necessidade incontornável. O aborto é doloroso, quer a nível físico, quer a nível emocional. Entendidos? Ponto final.
Aos excelentíssimos defensores do NÃO, e aos membros da igreja que ferozmente defendem a continuação da penalização do aborto: é pena que a vossa contribuição seja limitada, superficial e pautada de juízos de valor mesquinhos e desnecessários. O vosso dever é contribuir de forma lúcida para uma sociedade sã, que respeite a integridade social, moral e cívica de TODOS os cidadões, homens e mulheres. A vossa função é assegurar que os mecanismos e entidades centrais (por exemplo, sistema nacional de saúde) estão aptos a oferecer todos os meios necessários de tratamento e acompanhamento aos cidadões portugueses.
O resto? Desvarios líricos, dinheiro público mal gasto. Salários pagos a “personalidades” que não teem competência e descernimento para ocupar cargos com responsabilidade pública relevante....e que revelam deficiências em participar em discussões públicas de forma responsável, capaz e baseada em factos sociais e científicos de outros países mais “civilizados” que o nosso.
É chocante ver o senhor cardeal fazer propaganda pela penalização do aborto. A igreja católica deveria ser, a meu ver, uma das primeiras instancias a oferecer apoio emocional a mulheres que fazem um aborto (e talvez, a familiares próximos). A posição do senhor cardeal, e da igreja católica portuguesa é egoísta e mesquinha. A posição da igreja católica portuguesa é semelhante á propaganda no tempo das trevas - e no tempo das trevas, passo a expressão, que fique apenas o Diabo.
É simples: como cidadã e contribuinte, é meu pleno direito o acesso ao serviço nacional saúde, assim como é meu direito receber assistência profissional em todas as situações que se destinem a assegurar o meu bem estar físico e emocional.. Se é um aborto ou se é um braço partido, isso é obviamente e exclusivamente da minha conta.
Finalmente, que se desmembrane o último dos mitos aqui envolvidos. O aborto não é feito pelas classes mais baixas. Pelo contrário. A diferença fundamental tem a haver com o poder de compra que cada um. A diferença está entre contractar os serviços de uma clínica particular especializada (ou não – o aborto não é um procedimento necessariamente acompanhado pelo médico, mas por um assistente qualificado) onde tudo é feito de forma profissional e sem riscos ou; ter de fazer um aborto numa chafarica sem quaisquer condições de higiene ou meios apropriados para efectuar o procedimento.
A campanha pelo NÃO é surda, cega e ..... deveria ser também, muda.
Maria HM. Empresária.
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