30.11.06

Alarme aborto: a campanha do não

Por aquilo que vejo, a campanha do não está muito mais organizada do que a do sim, no caso do referendo ao aborto. Já recebi dezenas de mails sobre o assunto, incluindo comunicados das conferências episcopais. Esta pérola que aqui vos deixo, a título de exemplo, é particularmente imbecil porque se manifesta contra um tipo de aborto que até já é permitido. Mas o Diabo está nos detalhes e aquela referência pseudo-poética aos "olhos azuis" da irmã é ainda mais irritante porque desmascara o autor do texto como alguém demagógico, primário, reaccionário, retrógado e até um xenófobo/racista retinto e contumaz.

«Os olhos azuis da minha irmã

No último Prós e Contras, a eurodeputada Edite Estrela considerou que o
aborto poderia ser legítimo, caso a mãe descobrisse que a criança era
portadora de trissomia 21.

Eu tenho uma irmã com olhos azuis. Chama-se Mónica, tem 22 anos e tirou o
curso profissional de Serviços Básicos de Hospitalidade.

Trabalha hoje numa pastelaria de Lisboa. Os olhos dela são lindos e ela é
educada, feminina, anda sempre perfumada...

A Mónica é a minha irmã e irmã de mais três. Gostamos muito dela e ela é
muito feliz. Dá unidade à família, está atenta sempre a todos e a cada um.

A sra. eurodeputada não tem os olhos azuis mas tem uns olhos tão bonitos
como os da Mónica. Tem os talentos e as virtudes de avó e de mãe. E tem
dificuldades; certamente também chora e se alegra, é mais uma das pessoas
deste nosso planeta que acorda todas as manhãs e lava os dentes.

De certeza que já viu um pobre na rua e lhe estendeu a mão direita (a
esquerda) ou as duas, ou olhou para uma prostituta e sentiu pena. De certeza
que já ajudou alguém em apuros.

Gostávamos que viesse a nossa casa, provasse os muffins que a Mónica faz e
visse o gosto com que ela põe a mesa. E descobrisse que esta menina de
olhos azuis tem... trissomia 21.

E ficaria bem contente por ela ter nascido. Tal como nós. Tal como qualquer
pessoa.»

extraído do DESTAK

16 comentários:

Anónimo disse...

Para os incultos como eu:
retinto
adj.,
tinto segunda vez;
de cor bem carregada;
diz-se do touro de pêlo semelhante ao dos cavalos castanho

contumaz
do Lat. contumace
adj. 2 gén.,
que tem contumácia;
teimoso;
obstinado;
afincado no seu parecer;
desobediente.

Anónimo disse...

Realmente aquele ultimo paragrafo de "o gosto com que ela põe a mesa" diz tudo

P.S. Só mesmo alguém muito primário convidaria a Edite Estrela para chá em sua casa.

carlopod disse...

sim, também achei que esse parágrafo dizia tudo :-D

Anónimo disse...

esta conversa mete nojo! é uma pena que o aborto não seja legal há mais tempo. talvez tivessemos a sorte de nunca ter tido o autor do texto entre nós e o mundo seria tão melhor.
a referência aos olhos azuis da gaiata é particularmente tocante. e se tivesse olhos castanhos, já não havia problema? só falta dizer que também tinha a pele muito clarinha...
talvez a mónica não ache tanta graça quando descobrir que foi educada para sopeira.
o não pode estar melhor organizado. mas também parece que está muito mais desesperado.

Anónimo disse...

fiquei entretanto obcecado pelo "é mais uma das pessoas
deste nosso planeta que acorda todas as manhãs e lava os dentes"
será um anagrama??? tem de haver algum motivo superior para alguém com mais de 8 anos escrever numa frase como esta

Anónimo disse...

o texto deixou-me uma dúvida: quando dá tanto destaque aos olhos azuis, será que quer dizer que os olhos azuis é uma característica dos mongolóides? ou olhos azuis fazem as pessoas mongolóides?

Anónimo disse...

a razão é simples: a família sofre toda de trissomia 21.

carlopod disse...

então e não gostaram do "anda sempre perfumada"?

Anónimo disse...

mas isso é normal. sabe-se que as pessoas com olhos azuis cheiram muito mal.

allaboutheforest disse...

o facto da irmã desta criatura apresentar um cromossoma a mais no par 21, certamente a enche de alegria em cada um dos dias da sua vida. mesmo que tente esquecer que tem um cromossoma a mais, alguém ou algo vai sempre fazê-la lembrar esse facto, mesmo que lhe sejam retirados todos os espelhos e/ou objectos reflectores dos lugares que frequenta.

A cara arredondada, os olhos com uma inclinação para cima e os membros inferiores e superiores menores assim como os dedos, farão com que se lembre para o resto dos seus dias que é deficiente.

gozada na escola, ostracizada pela generalidade dos seres que a rodeiam, apelidada de coitadinha e alvo da pena de todos. deve sentir que a sua vida é o máximo. a pastelaria onde trabalha deve ser o que sempre sonhou para si, depois de descartados todos os sonhos relacionados com castelos, principes encantados e sexo (com excepção da violação).

na sua vida continuará presente a bruxa má, a maçã envenenada, todos os nomes fantásticos que os seus colegas de escola tiveram a amabilidade de lhe chamar e que ainda não conseguiu esquecer por imperativos vários e, sobretudo, o SOFRIMENTO. sim, o sofrimento. até ao último dia em que viver nunca esquecerá que houve alguém que a deixou nascer para sofrer.

any the one disse...

isto foi extraído do Destak,logo, claro que o texto foi inventado. das duas uma, ou inventado pelo "jornalista" ou inventado por aquele senhor das famílias numerosas - que protagoniza grandes descontos para aqueles casais que, por falta de imaginação, fazem filhos em série. a pista está aqui: "Mónica é a minha irmã e irmã de mais três". Ui, tantos!

indigente andrajoso disse...

embora seja na teoria apologista da teoria nietzscheriana do super-homem, na prática as coisas mudam um pouco...

neste debate não se pode debater assuntos pessoais e privados, porque todos temos algum ponto comuns...

de forma consciente penso que ninguem pode ser a favor do aborto per sí, mas a verdade ele existe e que sendo uma realidade social e humana temos que abranger para criar regras precisas...

vou votar sim

remiguel disse...

RELATÒRIO DA INVESTIGAÇÃO:
O texto, obviamente inventado de alto a baixo, parece-me ter alguma raiz neste blogue católico: http://euquecaminho.blogspot.com. Está mais precisamente em http://euquecaminho.blogspot.com/2006/11/de-jaime-bilbao.html. Abaixo do posto do texto seguem-se uma série de piadas caseiras e trocas de coments, através dos quais se percebe que o Jaime Bilbao (que raio de falta de imaginação) é inventado. Do que investiguei, o autor tem mesmo uma irmã com T21, que não tem olhos azuis, mas gosta de fazer bolinhos e os do blog já os comeram (a pastelaria é alegoria, tal como os olhos).
O certo é que o texto já corre por toda a net e sei lá que mais, levando a conversas longas (como esta neste blogue).

Há um detalhe delicioso no texto, que, pelo que li por aí, ninguém liga nenhuma: é que a Mónia fez o curso profissional de Serviços Básicos de Hospitalidade. Sim, Básicos. Presumo que seja uma alegoria. É que o curso, pelo que consegui apurar, não existe mesmo. Hélas! Ai ele há católicos tão alegóricos...

Valerá a pena darmos algum destaque a isto para desmascarar esta palhaçada católica? Talvez com uma contracorrente de mails?

Anónimo disse...

Um pouco de sensatez. Ou a Mónica agasalha o sardo ou não. Se não então está cá a mais. Para sopeiras já temos ucranianas e com cursos tirados no estrangeiro.
José Manuel.

Anónimo disse...

Tratar o tema desta forma - seja pelos a favor da legalização ou contra a mesma - tem sido o erro das campanhas em que o Não acaba por ganhar.

Os defensores da criminalização do aborto criam manobras de diversão e os defensores da legalização vão atrás deles. Criam-se discussões paralelas sem qualquer interesse.

Um feto portador de Trissomia 21 tem ou não direito à vida? Se for alheio à nossa vida não; se for nosso filho, tio, primo, irmão já a conversa é outra. O que é que se estava a discutir exactamente??? ahhhh - o aborto. Ou melhor: a despenalização do aborto, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas (é essa a questão colocada em referendo).

A prática ou não de um aborto é uma questão pessoal. O ser a favor ou contra o mesmo idem. O que se tem de discutir é se esse acto pode ou não ser punível pela lei.

E passando ao mundo real, há mil razões pelas quais o aborto deveria ser legal, em que destaco:

as humanas - com a legalização do aborto, as mulheres passarão a usufruir de melhores cuidados médicos não correndo os riscos que correm actualmente

as sociais - após a legalização a tendência será para que a sociedade passe a aceitar o acto, não condenando moralmente quem o pratique. Este será um processo moroso, é certo.

as económicas - se o número de mulheres que vai a Espanha fazer um aborto, o fizer em Portugal estará a contribuir para os cofres do Ministério da Saúde. E o que eles precisam de dinheirinho...

as menos humanas - evitar-se-iam muitos energúmenos* que pairam neste mundo (e não estou a falar dos portadores de Trissomia 21)

*substantivo masculino
1. possesso do Demónio;
2. figurado pessoa que, dominada por uma obsessão, pratica desatinos;
3. figurado pessoa desprezível;
4. figurado ignorante;

Anónimo disse...

Sinto-me verdadeiramente frustrada quando leio os argumentos da campanha pelo NÃO. Para além de ignorante e tacanha, é criminosa. A campanha pelo NÃO revela a grande irresponsabilidade e imaturidade que Portugal terá de saber superar, mais cedo do que tarde.

Vamos lá a ver se nos entendemos, agora bem claro...Fazer um aborto, nao é o mesmo que trocar de camisola, ir almocar com os ilustres colegas ou celebrar uma missinha aqui, outra ali. Nao hajam quaisquer tipo de equivocos, a mulher que opta pelo aborto é a mulher que toma uma das decisoes mais dificeis da vida - decisao esta que a acompanhará para o resto da sua vida. Este tipo de decisao nao depende da temperatura da agua do mar, este tipo de decisao é uma necessidade incontornável. O aborto é doloroso, quer a nível físico, quer a nível emocional. Entendidos? Ponto final.

Aos excelentíssimos defensores do NÃO, e aos membros da igreja que ferozmente defendem a continuação da penalização do aborto: é pena que a vossa contribuição seja limitada, superficial e pautada de juízos de valor mesquinhos e desnecessários. O vosso dever é contribuir de forma lúcida para uma sociedade sã, que respeite a integridade social, moral e cívica de TODOS os cidadões, homens e mulheres. A vossa função é assegurar que os mecanismos e entidades centrais (por exemplo, sistema nacional de saúde) estão aptos a oferecer todos os meios necessários de tratamento e acompanhamento aos cidadões portugueses.

O resto? Desvarios líricos, dinheiro público mal gasto. Salários pagos a “personalidades” que não teem competência e descernimento para ocupar cargos com responsabilidade pública relevante....e que revelam deficiências em participar em discussões públicas de forma responsável, capaz e baseada em factos sociais e científicos de outros países mais “civilizados” que o nosso.

É chocante ver o senhor cardeal fazer propaganda pela penalização do aborto. A igreja católica deveria ser, a meu ver, uma das primeiras instancias a oferecer apoio emocional a mulheres que fazem um aborto (e talvez, a familiares próximos). A posição do senhor cardeal, e da igreja católica portuguesa é egoísta e mesquinha. A posição da igreja católica portuguesa é semelhante á propaganda no tempo das trevas - e no tempo das trevas, passo a expressão, que fique apenas o Diabo.

É simples: como cidadã e contribuinte, é meu pleno direito o acesso ao serviço nacional saúde, assim como é meu direito receber assistência profissional em todas as situações que se destinem a assegurar o meu bem estar físico e emocional.. Se é um aborto ou se é um braço partido, isso é obviamente e exclusivamente da minha conta.

Finalmente, que se desmembrane o último dos mitos aqui envolvidos. O aborto não é feito pelas classes mais baixas. Pelo contrário. A diferença fundamental tem a haver com o poder de compra que cada um. A diferença está entre contractar os serviços de uma clínica particular especializada (ou não – o aborto não é um procedimento necessariamente acompanhado pelo médico, mas por um assistente qualificado) onde tudo é feito de forma profissional e sem riscos ou; ter de fazer um aborto numa chafarica sem quaisquer condições de higiene ou meios apropriados para efectuar o procedimento.

A campanha pelo NÃO é surda, cega e ..... deveria ser também, muda.

Maria HM. Empresária.